quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A plantação de igrejas missionais - Trabalho de conclusão de curso.





3. A CONTEXTUALIZAÇÃO PAULINA NA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Após passar por Tessalônica e Bereia, chegando a Atenas Paulo ficou profundamente indignado ao ver como a cidade era cheia de ídolos, dessa maneira ele passa a debater com os judeus e gregos nas sinagogas. (ATOS 17:16-17, ALMEIDA SÉCULO 21).

O texto de Atos 17:18, nos relata que chegaram para debater com Paulo alguns filósofos epicureus e estoicos. Os epicureus eram filósofos que pregavam de forma bem direta o prazer como bem supremo, e que todo sofrimento e dor deveriam ser afastados ao máximo possível da vida. Os estoicos por sua vez pregavam que as pessoas são partes de uma razão universal e que eram guiadas por leis da natureza, ou seja, viviam apenas o agora não crendo no mundo por vir, na vida eterna. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 337).

Paulo foi confrontado por esses grupos de filósofos, e sabia que para pregar-lhes o evangelho de Cristo deveria contextualizar sua mensagem de forma que os levassem a entender e compreender a mensagem pregada.

Para isso ele usaria elementos do próprio contexto daquele povo, os gregos, com cuidado para não diluir a mensagem da cruz. Então ele usa o altar do Deus desconhecido que os próprios gregos adoravam.

Nessa ocasião, Paulo pregava na sinagoga, então o tomaram e o levaram ao Areópago. Ao entrar no areópago, que era uma espécie de tribunal de julgamento, mas que por vezes era usado como um local para debates filosóficos, Paulo afirma: “Homens atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos” (ATOS 17:22, ALMEIDA SÉCULO 21). Então, ele pega elementos religiosos da cultura do povo para iniciar seu discurso acerca do evangelho, ganhando assim a atenção dos seus ouvintes. “Porque, ao passar e observar os objetos de vosso culto encontrei também um altar em que estava escrito: Ao Deus desconhecido. É exatamente este que honrais sem conhecer que eu vos anuncio.” (ATOS 17:23, ALMEIDA SÉCULO 21).

Neste momento Paulo aplica corretamente a contextualização, reconhece a característica da religiosidade cultural e aproveita o elemento do altar do Deus desconhecido presente naquela cultura para introduzir a verdade do evangelho. Paulo pega elementos da cultura grega como porta de entrada para anunciar Jesus, sem comprometer a mensagem de Cristo.

Paulo estava fazendo uma contextualização genuína, ele havia entendido os clamores daquela sociedade; existia um Deus que não era conhecido e que eles eram religiosos, a partir dessa leitura, Paulo começa a pregar o evangelho como resposta aos anseios daquele povo.

O altar desconhecido foi o elemento chave do contexto grego que Paulo usou para proclamar o Deus criador de todas as coisas, o altar desconhecido na verdade era um altar erigido para algum deus que por acaso eles tenham esquecido, veja que Paulo não atacou dizendo que todos os deuses que eles adoravam eram supostamente falsos deuses, se tivesse agido assim ele não teria atenção do público. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 336).

Paulo não se preocupa inicialmente em atacar a crença dos gregos, mas seu alvo principal era proclamar a verdade, afinal, ele melhor que ninguém sabia que, como ensina João Calvino, “a verdade é o único antidoto capaz de combater as mentiras dos ventos de doutrinas”.

Ele faz a apresentação do evangelho de Jesus Cristo; apresenta Deus como o criador do mundo e de tudo que nele há, começa a instigar a fé dos gregos ao afirmar que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas e que esse Deus não é servido por mãos humanas. (ATOS 17:24-25, ALMEIDA SÉCULO 21).

O apóstolo fala ainda de Deus como o criador de toda raça humana, que essa raça humana criada por Deus passou a existir para ter um relacionamento com seu criador, o que de certa forma ia contra as crenças gregas e os pensamentos filosóficos das leis da natureza.

Paulo usa citação de Epiménides como forma de contextualização, prega contra imagens e adoração a elas quando afirma que somos imagem e semelhança do Deus criador. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 336).

Ao pregar a doutrina da ressureição ele foi interrompido, afinal, era o auge da pregação de Paulo, mas também do confronto com as crenças e correntes filosóficas gregas: “Os gregos repudiavam a ideia de uma ressureição física. Embora acreditassem no conceito de que a alma vive para sempre, eles negavam a ideia de uma ressureição física porque consideravam o corpo maligno, algo a ser descartado”. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 336-337).

Este trecho do livro de Atos é um exemplo de contextualização do evangelho na cultura grega, Paulo em sua teologia contextualizava a forma de comunicar, mas nunca negociava a essência da mensagem da cruz.

Vejamos alguns outros exemplos: “Em Atos 13:13-43, Paulo fala em Antioquia para crentes, em Atos 14:6-16 o apóstolo fala para uma multidão de camponeses politeístas, pessoa incultas; Em Atos 17:16-34, Paulo fala para filósofos, pessoas instruídas e bem intelectuais, em Atos 20:16-38 ele prega em Mileto para líderes cristãos, em Atos 21.27- 22.22, Ele prega para um grupo de Judeus hostis, em Atos 24 ao 26 fala para pessoas da mais alta corte governamental.” (KELLER, 2014, p. 134)

E se fizéssemos uma analise cirúrgica de cada um desses textos veríamos que Paulo em todos esses momentos de pregação do evangelho contextualizou a forma de comunicar a mensagem de acordo com o contexto local:

Com cada auditório, Paulo usa uma base diferente de autoridade. Diante dos cristãos ele citava as Escrituras e João Batista; diante dos pagãos, ele argumentava da perspectiva da revelação e grandeza da criação. O conteúdo bíblico de sua apresentação também varia, dependendo dos ouvintes. Paulo muda a ordem da apresentação das verdades, como também a ênfase que dá a vários aspectos da teologia. Com os judeus tementes a Deus, Paulo gasta pouco tempo na doutrina sobre Deus e vai direto a Cristo. Mas com os pagãos, ele centra a maior parte do tempo desenvolvendo o conceito de Deus. Com gregos e romanos, Paulo fala primeiro sobre a ressureição de Cristo – e não sobre a cruz. (KELLER, 2014, p.135).

Podemos perceber que a contextualização de Paulo não introduz elementos diferentes na mensagem, mas apenas usa a cultura e os elementos locais para transmitir a mensagem. Ele sempre usava a mensagem como base e o contexto como porta de entrada. Quando o apóstolo fala aos atenienses ele usa os elementos do culto pagão para aplicar a verdade bíblica, usa o altar e objetos do culto como porta de entrada para proclamar a Cristo, e usa o nome Deus desconhecido para falar do criador e autor de todas as coisas.

A contextualização bíblica e equilibrada é aquela que sempre será feita a partir das escrituras e usará os elementos culturais como forma de entrada para obter atenção do público alvo. Paulo obteve a atenção dos atenienses ao falar dos seus elementos culturais de culto, e depois de obtida a atenção o caminho para a pregação estava aberto, os corações estavam voltados para as palavras do apóstolo, e assim o nome de Cristo foi glorificado.

Ao comunicar o evangelho aos gregos ele teve sensibilidade para perceber os pontos de interesse do povo, e levou respostas para os filósofos. Ele fala sobre um Deus criador do cosmo, o autor do universo tema que é de grande interesse filosófico. Comunica aos gregos o Deus que não habita em templos criados por homens, ou seja, Paulo começa a debater acerca da transcendência do Deus ao qual ele estava proclamando como o Deus desconhecido deles. O apostolo em sua contextualização do evangelho falou que o Deus desconhecido era o Deus criador de toda a raça humana, algo que a filosofia debate, de onde viemos e qual é a origem da raça humana.

Após ter ganhado a atenção do seu público, Paulo começa a desconstruir os conceitos helênicos que eram contrários ao evangelho. Aqui fica claro que a contextualização jamais poderá diluir o evangelho ou abrir brechas para sincretismos. Aos gregos ele falou que o Deus desconhecido era um Deus imanente, ou seja, um Deus pessoal e relacional e não um Deus isolado como eles sempre pensavam. Paulo fala sobre homens como imagem de Deus, imago dei, comunicando aos gregos que imagens não representam o Deus desconhecido. (ATOS 17:26-29, ALMEIDA SÉCULO 21).

O que percebemos de precioso nisso? Uma teologia bíblica, centrada em Cristo e uma contextualização genuína que preserva a essência da mensagem. Os plantadores de igrejas missionais hoje devem aprender com a teologia paulina sobre o que vem a ser uma boa, genuína e bíblica contextualização do evangelho ao seu tempo, espaço e cultura, e o mais importante sem deixar de pregar o Cristo crucificado.

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