2. A PLANTAÇÃO DE IGREJAS NA TEOLOGIA PAULINA
O apostolo Paulo foi um dos maiores plantadores de igrejas em toda história da igreja cristã, a palavra de Deus quando fala sobre Paulo e relata sobre a vida desse homem nos ensinará sobre a centralidade da plantação de igrejas em sua missão apostólica.
O livro de Atos dos apóstolos é um guia sobre plantação de igrejas, nessa carta escrita por Lucas vemos o relato da expansão do Reino de Jesus Cristo através da plantação.
Na teologia de Paulo o plantio de igrejas foi alicerçado por quatros grandes ações: evangelização, discipulado, liderança e contextualização.
2.1 Evangelização
No livro de Atos essa sequência é bem clara, ou seja, o apóstolo debatia nas sinagogas pregando o evangelho, os que recebiam essa mensagem eram discipulados e alguns se tornavam lideres, e tudo isso de forma contextual.
Em Atos 17:1-7 temos a narrativa do apóstolo Paulo chegando à cidade de Tessalônica, e mostra de forma direta o método que ele utilizava como forma de evangelização: “Segundo o seu costume, Paulo compareceu à reunião deles, e por três sábados examinou com eles as escrituras, explicando e demonstrando que era necessário que o Cristo sofresse e ressuscitasse dentro os mortos. E dizia: Este Jesus que eu vos anuncio é o Cristo.” (ATOS 17:2-3, ALMEIDA SÉCULO 21).
Então, fica claro que Paulo aplicava seu conhecimento bíblico para pregar a Jesus como o Cristo que morreu e ressuscitou, ele em sua evangelização era cristocêntrico.
O seguinte texto nos mostra a prática evangelística de Paulo como base elementar para a plantação de igrejas: “Em Icônio, entraram na sinagoga dos judeus, como costumavam fazer e falaram de tal modo que uma grande multidão creu, tanto de judeus como de gregos.” (ATOS 14:1, ALMEIDA SÉCULO 21).
A partir desses textos das sagradas escrituras, entendemos que a plantação de uma igreja missional sem evangelização é incoerente.
Porém, “ninguém passa do ateísmo à fé durante um sermão”. A salvação é pontual, diferentemente da caminhada rumo à maturidade da fé, esta é um processo. (STETZER, 2015, p. 239).
Portanto, o evangelismo é o inicio da proclamação do evangelho, ele abre caminhos para o segundo método que Paulo usou em suas plantações, o discipulado.
2.2 Discipulado
O discipulado é o ensino diário rumo à jornada de uma fé madura e sólida na pessoa de Jesus Cristo, tanto que o discipulado era algo essencial em sua missão apostólica. Por exemplo, quando Paulo estava pregando o evangelho na cidade de Corinto é notória além da evangelização, a prática do discipulado: “E ficou ali um ano e seis meses, ensinando a palavra de Deus entre eles.” (ATOS 18:11, ALMEIDA SÉCULO 21).
Esse texto bíblico relata que Paulo gastou um ano e seis meses ensinando e vivendo entre o povo de Corinto, Paulo entendia que a salvação é pontual, mas o estabelecimento da maturidade na fé contra vãs filosofias leva tempo.
No prefácio da carta Paulo relembra aos irmãos de Corinto que eles foram discipulados pelas palavras de vida e graça do evangelho e lembra aos seus discípulos que eles foram enriquecidos por meio do conhecimento da pessoa de Cristo, através do discipulado: “Pois em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo conhecimento [...]” (ALMEIDA SÉCULO 21).
É importante ressaltar que o discipulado de Paulo era centrado na pessoa de Jesus Cristo, o Senhor da igreja. Logo, é fundamental que a plantação seja centrada na teologia da cruz, pois é o conhecimento da verdade que produz libertação, Cristo é a verdade.
Toda igreja centrada em Cristo certamente produzirá bons frutos. Logo, esse modelo de plantação de igrejas alegra o coração de Deus. A igreja é o meio pelo qual existem comunhão e comunicação da graça.
Dietrich Bonhoeffer de forma profunda nos diz que a plantação de igrejas é algo muito especial para Cristo, pois toda vez que uma igreja nasce, ela não nasce porque homens a tornam uma realidade, mas porque ela antes de nascer já era uma realidade na pessoa do próprio Cristo: “A fraternidade cristã não é um ideal que nós devêssemos realizar. É uma realidade criada por Deus, em Cristo, da qual podemos tomar parte.” (1997, p.21).
Claro, a citação de Bonhoeffer fala mais acerca da igreja universal, da catolicidade da igreja como corpo de Cristo, mas nada impede de usarmos tal compreensão para uma igreja local que nada mais é que uma pequena expressão da totalidade deste corpo.
O discipulado na plantação de igrejas na teologia Paulina significa estabelecer um compromisso com o próprio Cristo, o de cumprir sua própria ordenança de ir e fazer discípulos. Uma igreja missional é aquela que entende a importância do discipulado e aplica essa verdade na vida congregacional dos membros.
O discipulado é o caminho que toda igreja missional deve usar para, por meio do evangelho, pregar verdades bíblicas aos corações dos homens.
Uma igreja sem discipulado é uma igreja fraca, que não será capaz de contextualizar de forma
Cristocêntrica o evangelho em cenários pós-modernos, já que a contextualização bíblica é fruto de uma correta compreensão da graça que emana do evangelho.
Uma igreja missional é profundamente conhecedora das doutrinas da graça, do conhecimento da importância da criação, dos efeitos da queda em nossos corações, da libertação dessa corrupção por meio do ato redentivo da cruz, e que o nosso destino será por meio de um corpo glorificado render glória a Deus eternamente. E esse conhecimento só se adquire com discipulado.
2.3 Liderança
Outro ponto central da teologia paulina na plantação de igrejas é a liderança, ou a formação do corpo presbiteral como liderança da igreja. Igrejas missionais entendem a importância da formação de liderança, bem como uma formação plural e presbiteral.
Líder é o servo maduro que usa da liderança para ensinar, corrigir, contagiar e amar, ou seja, a liderança em igrejas missionais é um tipo de liderança-servo, a liderança que lava os pés e caminha a segunda milha.
A bíblia fala do aspecto dual da liderança. Ainda no antigo testamento temos a figura de Jetro aconselhando seu genro Moisés a escolher 70 anciões para ajuda-lo a liderar o povo de Israel. Em seguida vemos Josué mantendo a cultura da anciania, e é assim em todo o antigo testamento, onde até mesmo os reis tinham seus conselheiros. Com a chegada do Novo Testamento e todas as suas peculiaridades, homens inspirados pelo Espirito Santo deixaram registrado nos escritos sagrados o modelo da liderança bíblica na igreja de Cristo, qual seja, uma liderança plural e não individual.
E Paulo não age de maneira divergente a esse ensino histórico registrado na lei mosaica e nos escritos do seu próprio tempo, ele toda vez que plantava uma igreja evangelizava o povo, discipulava os que criam e estabelecia liderança por meio de um corpo plural de presbíteros.
Podemos entender que existe algo valioso por trás dessa diversidade de presbíteros, ou corpo presbiteral. Essa forma da igreja ser governada é importante, pois protege a igreja de falsos mestres, já que os presbíteros trabalham em prol do zelo e manutenção da fé e vida espiritual das ovelhas de Cristo.
Paulo teve o cuidado de deixar lideres estabelecidos nas igrejas, pois era sabedor da depravação que a raça humana sofreu em Adão, e do que um único homem no governo da igreja poderia fazer. Vale lembrar quem o próprio apóstolo era antes do encontro com Cristo no caminho de Damasco.
Atos dos apóstolos nos mostra Paulo em um diálogo de ânimo com os presbíteros da igreja de Éfeso, dizendo que eles deveriam cuidar de si mesmos e de toda a igreja que o Senhor lhes havia confiado, e o cuidar de si mesmos traz justamente a conotação do corpo presbiteral: “Portanto, tende cuidado de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para
pastoreardes a igreja de Deus, que ele comprou com o próprio sangue.” (ATOS 20:28, ALMEIDA SÉCULO 21).
Não existe possibilidade de cuidado aonde se tem apenas uma pessoa, e o maior cuidado que a liderança em um processo de plantação deve ter é com seu coração, os líderes devem fazer a plantação da igreja Coram Deo, tudo deve ser realizado diante de Deus.
A liderança de uma igreja missional é aquela que é guiada por uma profunda relação vertical com Cristo, de modo que os efeitos dessa relação vertical serão visíveis na sua horizontalidade, ou seja, na relação da liderança com a comunidade dos Santos e dessa comunidade com a sociedade.
Quando o apostolo deixa a ordem “tende cuidado de vós mesmos”, ele sabe da importância do estado do coração humano dos lideres frente a tudo o que eles devem realizar em nome de Deus.
Paulo deixa claro que o importante é o coração, cuidem de si mesmos. Um coração enfermo mesmo que com ações boas aos olhos humanos não agradará a Deus, o coração é a fonte da vida, ele guiará nossos passos, e é dele que surgem às motivações, cedo ou tarde corações enfermos colocarão a perder toda obra realizada. (TRIPP, 2014)
Samuel Costa (2006) nos adverte que oposto ao estabelecimento de liderança plural de presbíteros na plantação de igrejas é a liderança una e centralizadora, que infelizmente existe em muitas igrejas evangélicas. Essa forma de liderança torna a igreja alvo fácil para homens cheios de si, egocêntricos e autoritários, a quem Paulo chama de lobos cruéis: “Eu sei que, depois da minha partida, lobos cruéis entrarão no vosso meio e não pouparão o rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens falando coisas distorcidas para atrair discípulos para si.” (ATOS 20:29, ALMEIDA SÉCULO 21).
Paulo em sua teologia acerca da plantação de igrejas estabelece uma liderança saudável, por saudável na teologia de Paulo entende-se toda aquela que se encaixa nas recomendações expressas em sua carta a Timóteo. Paulo estabelecia os lideres da igreja que plantava com base no discipulado, é no discipulado que caminhamos juntos a ponto de notar aquilo que precisa ser lavado pelas águas do evangelho de Cristo. “Portanto, estais atentos, lembrando-vos de que durante três anos não cessei, dia e noite e com lágrimas, de aconselhar cada um de vós” (ATOS 20:30, ALMEIDA, SÉCULO 21).
O apóstolo Paulo aplica uma evangelização consciente e intencional no discipulado, a fim de estabelecer lideres saudáveis, tudo isso de forma contextual e centrada em Jesus Cristo, o cabeça da igreja. É certo que o processo de plantação não é fácil. O solo da plantação de igrejas missionais deve ser regado pelas lágrimas derramadas diante de Deus em oração. Desejar plantar uma igreja sem oração é como arar um solo sem semente e desejar ver o crescimento.
Paulo orava e orava com lágrimas, ele derramava seu coração diante de Deus, e vivia o que pregava, mas ele sabia que só plantava e regava, pois o crescimento só pode vir unicamente pela ação poderosa de Jesus Cristo. Igrejas missionais levam a sério o ato da oração, a teologia Paulina de plantação de igrejas registrada em Atos nos deixa claro que não se planta igreja sem oração e sem dor, lágrimas e dependência, ou seja, para regar o solo da plantação missional usa-se as lágrimas que emanam de corações dependentes.
2.4 Contextualização
Outro aspecto da teologia paulina para plantação de igrejas é a necessidade de contextualizar a mensagem de Cristo para os diversos tipos culturais. A contextualização é um tema bastante espinhoso em nossos dias, e devido a sua relevância e extensão será tratado de forma especial no próximo capitulo.