sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Aprenda a ouvir 

  Um dos grandes problemas que você enfrenta em sua caminhada cristã é fruto do não ouvir os mais maduros na fé. Você sempre tem a tendência pecaminosa de achar que sabe mais ou que é melhor que os outros, é justamente por isso que a Fé em Jesus Cristo alicerça-se na humildade.

 "Não dei atenção aos que me ensinavam, nem inclinei o ouvido aos que me instruíam. Quase cheguei à ruína completa, diante da congregação e da assembleia”. (Provérbios 5:13-14). É interessante notar que o contexto desses versos fala sobre uma advertência contra a mulher imoral, conquanto, não te impede de aplicar para as várias áreas de sua vida. Você cai, erra, peca e muito desses eventos poderiam ser evitados se você apenas inclinasse seu coração para ouvir as repreensões ou ensinos dos mais experientes que você no evangelho.

  O escritor de Hebreus fala algo semelhante: “...antes, exortai uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama hoje, para que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado”. (Hebreus 3:13). A dinâmica da caminhada com Jesus sempre será em ouvir e ser ouvido, no reino de Cristo se caminha pelas estradas do relacionamento e a fé que é comunitária te livra muitas vezes daquilo que sozinho para você é imperceptível ou inofensivo.

  A bíblia é repleta de histórias onde muitos dos personagens livraram-se de ciladas pelo fato de ouvir alguém. Pensamos até aqui na forma preventiva do pecado por meio do auxilio do próximo, mas você deve ouvir e estar atento ás palavras de ensino dos mestres quando o pecado foi consumado. Não existe cura do pecado quando não há confissão ao próximo – cuidado digo cura e não perdão.

http://rosariodepompeia.com.br/images/a40ecomwlh4am89ov0lfbpam2.jpg
 “Portanto, confessai vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A súplica de um justo é muito eficaz”. (Tiago 5:16). Talvez você não deu atenção ao ensino/exortação e com isso está em ruínas, não desista, o perdão em Jesus é oferecido, e a igreja como corpo de Jesus é o local de restauração, lugar onde confessamos nossos erros e assim somos curados e restabelecidos em nossa espiritualidade.

Em tempos de grande religiosidade e condenação, existem os remanescentes, aqueles que com a graça comunicada por Cristo ama não condenar o pecador arrependido, antes, deseja vê-lo restaurado amando a Cristo e integrado no seio da igreja mística de Jesus. Os pecadores arrependidos que ajudam outros pecadores arrependidos são aqueles que alcançados pela graça sabem da sua miserabilidade e do poder santificador do sangue de Jesus Cristo.
  
 Aprender ouvir é fundamental para sua vida com Jesus, foi por ter inclinado seus ouvidos e coração ao profeta Natã e ter se arrependido que Davi o rei de Israel, um pecador arrependido, tornou-se o homem segundo o coração de Deus. Ele entendeu o poder do ouvir.

  Aprenda a ouvir !

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A plantação de igrejas missionais - Trabalho de conclusão de curso.


4. O PERFIL DO PLANTADOR

4.1 A maturidade do plantador 

 Ao falar em plantação de igrejas é necessário falar também da figura pastoral, aquele a
quem o Senhor Jesus impele no coração um profundo comprometimento com o reino e a sua
expansão por meio do plantio de igrejas missionais.

Nossa geração pastoral tem vivido há muito tempo uma crise de identidade, a qual
Darrin Patrick (2013) chama de Homeninos: aqueles que são bons em vender uma imagem de
homens maduros, mas quando na realidade não passam de crianças, que desejam os benefícios
da vida adulta, mas não desejam arcar com o ônus da responsabilidade que essa vida exige.

Patrick (2013, p.15) esclarece que: “Ser uma pessoa do sexo masculino está ligado à
biologia, mas ser homem está ligado a como ele se relaciona com Deus, pensa sobre Ele e o
serve”.

Essa crise de identidade se torna um problema quando o plantador da igreja se encaixa
nesse perfil, quando ao invés de homem, ele é um menino na carcaça de um adulto, quando é
um adulto com mente de adolescente. “Ser um menino adulto se tornou uma tendência
popular.” (PATRICK, 2013, p.13). Quando o adulto com mentalidade de adolescente se torna
uma tendência algo muito sério e perigoso pode acontecer na igreja, afinal esses homeninos
podem ser os pastores dessas igrejas.

Perigoso pelo fato de que na igreja o pastor-plantador deve zelar pela vida da sua
família e das ovelhas, e o grande questionamento de Darrin Patrick reside justamente na
capacidade do homenino de cuidar dos outros quando ele não é capaz de cuidar de si mesmo e
de sua família.  

No contexto pós-moderno brasileiro a plantação de igrejas tem surgido no cenário
evangélico em números crescentes, e isso é glorioso; contudo, deve ser feito com cautela e
maturidade, ou seja, é tarefa para homens e não meninos. Ora, a igreja é algo sério, trata-se
daqueles por quem o nosso Senhor Jesus deu a vida.

                                 

4.2 O conhecimento teológico do plantador 

Outra grande crise que os plantadores dos nossos dias vivem é a falta de conhecimento
teológico, homens sentem no coração o desejo de pastorear um grupo, plantar uma
comunidade de fé, mas não se preocupam em se preparar para isso.

Sobre essa falta de qualificação Patrick (2013, p.55) ilustra as seguintes situações:

Ninguém embarcaria em um avião se soubesse que o piloto adora aviões, mas não tem brevê. Ninguém gostaria de ser operado por um cirurgião cuja principal credencial fosse o fato de ter um pai médico. Um jovem casal não confiaria o projeto de sua casa dos sonhos a um arquiteto cujo portfólio fosse a parte de trás de uma caixa de lego. As qualificações são importantes em todo trabalho, e quanto mais importante é o trabalho, mais importante é a necessidade de qualificações elevadas.

Sabemos que a vocação é algo inerente e exclusivo da parte de Deus, contudo, sabemos
também que Deus usa como instrumento os centros de estudos teológicos como forma de
moldar, lapidar e preparar intelectualmente tais pastores-plantadores para a missão.

A consequência disso é o que vemos: uma porção de igrejas sendo plantadas sem uma
identidade teológica enraizada nas escrituras, fundamentadas apenas em modismos e
paradigmas.

O pastor como a figura que ensina, exorta, aconselha, guia, direciona e consola, deve
necessariamente ser como o próprio apóstolo Paulo instruiu: apto ao ensino; contudo, este
ensino deve ser o apostólico, o ensino doutrinário genuíno das sagradas escrituras, aqueles
que nos foram legados pelos apóstolos bíblicos e pais da igreja.

Tem sobrado em nosso contexto homeninos com pouco conhecimento teológico e
faltado homens de verdade com sede e fome do conhecimento teológico que produz o
encontro com a maravilhosa graça, a saber, Jesus Cristo.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A plantação de igrejas missionais - Trabalho de conclusão de curso.





3. A CONTEXTUALIZAÇÃO PAULINA NA PLANTAÇÃO DE IGREJAS

Após passar por Tessalônica e Bereia, chegando a Atenas Paulo ficou profundamente indignado ao ver como a cidade era cheia de ídolos, dessa maneira ele passa a debater com os judeus e gregos nas sinagogas. (ATOS 17:16-17, ALMEIDA SÉCULO 21).

O texto de Atos 17:18, nos relata que chegaram para debater com Paulo alguns filósofos epicureus e estoicos. Os epicureus eram filósofos que pregavam de forma bem direta o prazer como bem supremo, e que todo sofrimento e dor deveriam ser afastados ao máximo possível da vida. Os estoicos por sua vez pregavam que as pessoas são partes de uma razão universal e que eram guiadas por leis da natureza, ou seja, viviam apenas o agora não crendo no mundo por vir, na vida eterna. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 337).

Paulo foi confrontado por esses grupos de filósofos, e sabia que para pregar-lhes o evangelho de Cristo deveria contextualizar sua mensagem de forma que os levassem a entender e compreender a mensagem pregada.

Para isso ele usaria elementos do próprio contexto daquele povo, os gregos, com cuidado para não diluir a mensagem da cruz. Então ele usa o altar do Deus desconhecido que os próprios gregos adoravam.

Nessa ocasião, Paulo pregava na sinagoga, então o tomaram e o levaram ao Areópago. Ao entrar no areópago, que era uma espécie de tribunal de julgamento, mas que por vezes era usado como um local para debates filosóficos, Paulo afirma: “Homens atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos” (ATOS 17:22, ALMEIDA SÉCULO 21). Então, ele pega elementos religiosos da cultura do povo para iniciar seu discurso acerca do evangelho, ganhando assim a atenção dos seus ouvintes. “Porque, ao passar e observar os objetos de vosso culto encontrei também um altar em que estava escrito: Ao Deus desconhecido. É exatamente este que honrais sem conhecer que eu vos anuncio.” (ATOS 17:23, ALMEIDA SÉCULO 21).

Neste momento Paulo aplica corretamente a contextualização, reconhece a característica da religiosidade cultural e aproveita o elemento do altar do Deus desconhecido presente naquela cultura para introduzir a verdade do evangelho. Paulo pega elementos da cultura grega como porta de entrada para anunciar Jesus, sem comprometer a mensagem de Cristo.

Paulo estava fazendo uma contextualização genuína, ele havia entendido os clamores daquela sociedade; existia um Deus que não era conhecido e que eles eram religiosos, a partir dessa leitura, Paulo começa a pregar o evangelho como resposta aos anseios daquele povo.

O altar desconhecido foi o elemento chave do contexto grego que Paulo usou para proclamar o Deus criador de todas as coisas, o altar desconhecido na verdade era um altar erigido para algum deus que por acaso eles tenham esquecido, veja que Paulo não atacou dizendo que todos os deuses que eles adoravam eram supostamente falsos deuses, se tivesse agido assim ele não teria atenção do público. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 336).

Paulo não se preocupa inicialmente em atacar a crença dos gregos, mas seu alvo principal era proclamar a verdade, afinal, ele melhor que ninguém sabia que, como ensina João Calvino, “a verdade é o único antidoto capaz de combater as mentiras dos ventos de doutrinas”.

Ele faz a apresentação do evangelho de Jesus Cristo; apresenta Deus como o criador do mundo e de tudo que nele há, começa a instigar a fé dos gregos ao afirmar que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas e que esse Deus não é servido por mãos humanas. (ATOS 17:24-25, ALMEIDA SÉCULO 21).

O apóstolo fala ainda de Deus como o criador de toda raça humana, que essa raça humana criada por Deus passou a existir para ter um relacionamento com seu criador, o que de certa forma ia contra as crenças gregas e os pensamentos filosóficos das leis da natureza.

Paulo usa citação de Epiménides como forma de contextualização, prega contra imagens e adoração a elas quando afirma que somos imagem e semelhança do Deus criador. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 336).

Ao pregar a doutrina da ressureição ele foi interrompido, afinal, era o auge da pregação de Paulo, mas também do confronto com as crenças e correntes filosóficas gregas: “Os gregos repudiavam a ideia de uma ressureição física. Embora acreditassem no conceito de que a alma vive para sempre, eles negavam a ideia de uma ressureição física porque consideravam o corpo maligno, algo a ser descartado”. (RADMACHER; ALLEN; HOUSE, 2010, p. 336-337).

Este trecho do livro de Atos é um exemplo de contextualização do evangelho na cultura grega, Paulo em sua teologia contextualizava a forma de comunicar, mas nunca negociava a essência da mensagem da cruz.

Vejamos alguns outros exemplos: “Em Atos 13:13-43, Paulo fala em Antioquia para crentes, em Atos 14:6-16 o apóstolo fala para uma multidão de camponeses politeístas, pessoa incultas; Em Atos 17:16-34, Paulo fala para filósofos, pessoas instruídas e bem intelectuais, em Atos 20:16-38 ele prega em Mileto para líderes cristãos, em Atos 21.27- 22.22, Ele prega para um grupo de Judeus hostis, em Atos 24 ao 26 fala para pessoas da mais alta corte governamental.” (KELLER, 2014, p. 134)

E se fizéssemos uma analise cirúrgica de cada um desses textos veríamos que Paulo em todos esses momentos de pregação do evangelho contextualizou a forma de comunicar a mensagem de acordo com o contexto local:

Com cada auditório, Paulo usa uma base diferente de autoridade. Diante dos cristãos ele citava as Escrituras e João Batista; diante dos pagãos, ele argumentava da perspectiva da revelação e grandeza da criação. O conteúdo bíblico de sua apresentação também varia, dependendo dos ouvintes. Paulo muda a ordem da apresentação das verdades, como também a ênfase que dá a vários aspectos da teologia. Com os judeus tementes a Deus, Paulo gasta pouco tempo na doutrina sobre Deus e vai direto a Cristo. Mas com os pagãos, ele centra a maior parte do tempo desenvolvendo o conceito de Deus. Com gregos e romanos, Paulo fala primeiro sobre a ressureição de Cristo – e não sobre a cruz. (KELLER, 2014, p.135).

Podemos perceber que a contextualização de Paulo não introduz elementos diferentes na mensagem, mas apenas usa a cultura e os elementos locais para transmitir a mensagem. Ele sempre usava a mensagem como base e o contexto como porta de entrada. Quando o apóstolo fala aos atenienses ele usa os elementos do culto pagão para aplicar a verdade bíblica, usa o altar e objetos do culto como porta de entrada para proclamar a Cristo, e usa o nome Deus desconhecido para falar do criador e autor de todas as coisas.

A contextualização bíblica e equilibrada é aquela que sempre será feita a partir das escrituras e usará os elementos culturais como forma de entrada para obter atenção do público alvo. Paulo obteve a atenção dos atenienses ao falar dos seus elementos culturais de culto, e depois de obtida a atenção o caminho para a pregação estava aberto, os corações estavam voltados para as palavras do apóstolo, e assim o nome de Cristo foi glorificado.

Ao comunicar o evangelho aos gregos ele teve sensibilidade para perceber os pontos de interesse do povo, e levou respostas para os filósofos. Ele fala sobre um Deus criador do cosmo, o autor do universo tema que é de grande interesse filosófico. Comunica aos gregos o Deus que não habita em templos criados por homens, ou seja, Paulo começa a debater acerca da transcendência do Deus ao qual ele estava proclamando como o Deus desconhecido deles. O apostolo em sua contextualização do evangelho falou que o Deus desconhecido era o Deus criador de toda a raça humana, algo que a filosofia debate, de onde viemos e qual é a origem da raça humana.

Após ter ganhado a atenção do seu público, Paulo começa a desconstruir os conceitos helênicos que eram contrários ao evangelho. Aqui fica claro que a contextualização jamais poderá diluir o evangelho ou abrir brechas para sincretismos. Aos gregos ele falou que o Deus desconhecido era um Deus imanente, ou seja, um Deus pessoal e relacional e não um Deus isolado como eles sempre pensavam. Paulo fala sobre homens como imagem de Deus, imago dei, comunicando aos gregos que imagens não representam o Deus desconhecido. (ATOS 17:26-29, ALMEIDA SÉCULO 21).

O que percebemos de precioso nisso? Uma teologia bíblica, centrada em Cristo e uma contextualização genuína que preserva a essência da mensagem. Os plantadores de igrejas missionais hoje devem aprender com a teologia paulina sobre o que vem a ser uma boa, genuína e bíblica contextualização do evangelho ao seu tempo, espaço e cultura, e o mais importante sem deixar de pregar o Cristo crucificado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A plantação de igrejas missionais - Trabalho de conclusão de curso.



2. A PLANTAÇÃO DE IGREJAS NA TEOLOGIA PAULINA

O apostolo Paulo foi um dos maiores plantadores de igrejas em toda história da igreja cristã, a palavra de Deus quando fala sobre Paulo e relata sobre a vida desse homem nos ensinará sobre a centralidade da plantação de igrejas em sua missão apostólica.

O livro de Atos dos apóstolos é um guia sobre plantação de igrejas, nessa carta escrita por Lucas vemos o relato da expansão do Reino de Jesus Cristo através da plantação.
Na teologia de Paulo o plantio de igrejas foi alicerçado por quatros grandes ações: evangelização, discipulado, liderança e contextualização.

2.1 Evangelização

No livro de Atos essa sequência é bem clara, ou seja, o apóstolo debatia nas sinagogas pregando o evangelho, os que recebiam essa mensagem eram discipulados e alguns se tornavam lideres, e tudo isso de forma contextual.

Em Atos 17:1-7 temos a narrativa do apóstolo Paulo chegando à cidade de Tessalônica, e mostra de forma direta o método que ele utilizava como forma de evangelização: “Segundo o seu costume, Paulo compareceu à reunião deles, e por três sábados examinou com eles as escrituras, explicando e demonstrando que era necessário que o Cristo sofresse e ressuscitasse dentro os mortos. E dizia: Este Jesus que eu vos anuncio é o Cristo.” (ATOS 17:2-3, ALMEIDA SÉCULO 21).

Então, fica claro que Paulo aplicava seu conhecimento bíblico para pregar a Jesus como o Cristo que morreu e ressuscitou, ele em sua evangelização era cristocêntrico.

O seguinte texto nos mostra a prática evangelística de Paulo como base elementar para a plantação de igrejas: “Em Icônio, entraram na sinagoga dos judeus, como costumavam fazer e falaram de tal modo que uma grande multidão creu, tanto de judeus como de gregos.” (ATOS 14:1, ALMEIDA SÉCULO 21).

A partir desses textos das sagradas escrituras, entendemos que a plantação de uma igreja missional sem evangelização é incoerente.

Porém, “ninguém passa do ateísmo à fé durante um sermão”. A salvação é pontual, diferentemente da caminhada rumo à maturidade da fé, esta é um processo. (STETZER, 2015, p. 239).

Portanto, o evangelismo é o inicio da proclamação do evangelho, ele abre caminhos para o segundo método que Paulo usou em suas plantações, o discipulado.

2.2 Discipulado

O discipulado é o ensino diário rumo à jornada de uma fé madura e sólida na pessoa de Jesus Cristo, tanto que o discipulado era algo essencial em sua missão apostólica. Por exemplo, quando Paulo estava pregando o evangelho na cidade de Corinto é notória além da evangelização, a prática do discipulado: “E ficou ali um ano e seis meses, ensinando a palavra de Deus entre eles.” (ATOS 18:11, ALMEIDA SÉCULO 21).

Esse texto bíblico relata que Paulo gastou um ano e seis meses ensinando e vivendo entre o povo de Corinto, Paulo entendia que a salvação é pontual, mas o estabelecimento da maturidade na fé contra vãs filosofias leva tempo.

No prefácio da carta Paulo relembra aos irmãos de Corinto que eles foram discipulados pelas palavras de vida e graça do evangelho e lembra aos seus discípulos que eles foram enriquecidos por meio do conhecimento da pessoa de Cristo, através do discipulado: “Pois em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo conhecimento [...]” (ALMEIDA SÉCULO 21).

É importante ressaltar que o discipulado de Paulo era centrado na pessoa de Jesus Cristo, o Senhor da igreja. Logo, é fundamental que a plantação seja centrada na teologia da cruz, pois é o conhecimento da verdade que produz libertação, Cristo é a verdade.

Toda igreja centrada em Cristo certamente produzirá bons frutos. Logo, esse modelo de plantação de igrejas alegra o coração de Deus. A igreja é o meio pelo qual existem comunhão e comunicação da graça.

Dietrich Bonhoeffer de forma profunda nos diz que a plantação de igrejas é algo muito especial para Cristo, pois toda vez que uma igreja nasce, ela não nasce porque homens a tornam uma realidade, mas porque ela antes de nascer já era uma realidade na pessoa do próprio Cristo: “A fraternidade cristã não é um ideal que nós devêssemos realizar. É uma realidade criada por Deus, em Cristo, da qual podemos tomar parte.” (1997, p.21).

Claro, a citação de Bonhoeffer fala mais acerca da igreja universal, da catolicidade da igreja como corpo de Cristo, mas nada impede de usarmos tal compreensão para uma igreja local que nada mais é que uma pequena expressão da totalidade deste corpo.

O discipulado na plantação de igrejas na teologia Paulina significa estabelecer um compromisso com o próprio Cristo, o de cumprir sua própria ordenança de ir e fazer discípulos. Uma igreja missional é aquela que entende a importância do discipulado e aplica essa verdade na vida congregacional dos membros.

O discipulado é o caminho que toda igreja missional deve usar para, por meio do evangelho, pregar verdades bíblicas aos corações dos homens.

Uma igreja sem discipulado é uma igreja fraca, que não será capaz de contextualizar de forma
Cristocêntrica o evangelho em cenários pós-modernos, já que a contextualização bíblica é fruto de uma correta compreensão da graça que emana do evangelho.

Uma igreja missional é profundamente conhecedora das doutrinas da graça, do conhecimento da importância da criação, dos efeitos da queda em nossos corações, da libertação dessa corrupção por meio do ato redentivo da cruz, e que o nosso destino será por meio de um corpo glorificado render glória a Deus eternamente. E esse conhecimento só se adquire com discipulado.


2.3 Liderança

Outro ponto central da teologia paulina na plantação de igrejas é a liderança, ou a formação do corpo presbiteral como liderança da igreja. Igrejas missionais entendem a importância da formação de liderança, bem como uma formação plural e presbiteral.

Líder é o servo maduro que usa da liderança para ensinar, corrigir, contagiar e amar, ou seja, a liderança em igrejas missionais é um tipo de liderança-servo, a liderança que lava os pés e caminha a segunda milha.

A bíblia fala do aspecto dual da liderança. Ainda no antigo testamento temos a figura de Jetro aconselhando seu genro Moisés a escolher 70 anciões para ajuda-lo a liderar o povo de Israel. Em seguida vemos Josué mantendo a cultura da anciania, e é assim em todo o antigo testamento, onde até mesmo os reis tinham seus conselheiros. Com a chegada do Novo Testamento e todas as suas peculiaridades, homens inspirados pelo Espirito Santo deixaram registrado nos escritos sagrados o modelo da liderança bíblica na igreja de Cristo, qual seja, uma liderança plural e não individual.

E Paulo não age de maneira divergente a esse ensino histórico registrado na lei mosaica e nos escritos do seu próprio tempo, ele toda vez que plantava uma igreja evangelizava o povo, discipulava os que criam e estabelecia liderança por meio de um corpo plural de presbíteros.

Podemos entender que existe algo valioso por trás dessa diversidade de presbíteros, ou corpo presbiteral. Essa forma da igreja ser governada é importante, pois protege a igreja de falsos mestres, já que os presbíteros trabalham em prol do zelo e manutenção da fé e vida espiritual das ovelhas de Cristo.

Paulo teve o cuidado de deixar lideres estabelecidos nas igrejas, pois era sabedor da depravação que a raça humana sofreu em Adão, e do que um único homem no governo da igreja poderia fazer. Vale lembrar quem o próprio apóstolo era antes do encontro com Cristo no caminho de Damasco.

Atos dos apóstolos nos mostra Paulo em um diálogo de ânimo com os presbíteros da igreja de Éfeso, dizendo que eles deveriam cuidar de si mesmos e de toda a igreja que o Senhor lhes havia confiado, e o cuidar de si mesmos traz justamente a conotação do corpo presbiteral: “Portanto, tende cuidado de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para
pastoreardes a igreja de Deus, que ele comprou com o próprio sangue.” (ATOS 20:28, ALMEIDA SÉCULO 21).

Não existe possibilidade de cuidado aonde se tem apenas uma pessoa, e o maior cuidado que a liderança em um processo de plantação deve ter é com seu coração, os líderes devem fazer a plantação da igreja Coram Deo, tudo deve ser realizado diante de Deus.

A liderança de uma igreja missional é aquela que é guiada por uma profunda relação vertical com Cristo, de modo que os efeitos dessa relação vertical serão visíveis na sua horizontalidade, ou seja, na relação da liderança com a comunidade dos Santos e dessa comunidade com a sociedade.

Quando o apostolo deixa a ordem “tende cuidado de vós mesmos”, ele sabe da importância do estado do coração humano dos lideres frente a tudo o que eles devem realizar em nome de Deus.

Paulo deixa claro que o importante é o coração, cuidem de si mesmos. Um coração enfermo mesmo que com ações boas aos olhos humanos não agradará a Deus, o coração é a fonte da vida, ele guiará nossos passos, e é dele que surgem às motivações, cedo ou tarde corações enfermos colocarão a perder toda obra realizada. (TRIPP, 2014)

Samuel Costa (2006) nos adverte que oposto ao estabelecimento de liderança plural de presbíteros na plantação de igrejas é a liderança una e centralizadora, que infelizmente existe em muitas igrejas evangélicas. Essa forma de liderança torna a igreja alvo fácil para homens cheios de si, egocêntricos e autoritários, a quem Paulo chama de lobos cruéis: “Eu sei que, depois da minha partida, lobos cruéis entrarão no vosso meio e não pouparão o rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens falando coisas distorcidas para atrair discípulos para si.” (ATOS 20:29, ALMEIDA SÉCULO 21).

Paulo em sua teologia acerca da plantação de igrejas estabelece uma liderança saudável, por saudável na teologia de Paulo entende-se toda aquela que se encaixa nas recomendações expressas em sua carta a Timóteo. Paulo estabelecia os lideres da igreja que plantava com base no discipulado, é no discipulado que caminhamos juntos a ponto de notar aquilo que precisa ser lavado pelas águas do evangelho de Cristo. “Portanto, estais atentos, lembrando-vos de que durante três anos não cessei, dia e noite e com lágrimas, de aconselhar cada um de vós” (ATOS 20:30, ALMEIDA, SÉCULO 21).

O apóstolo Paulo aplica uma evangelização consciente e intencional no discipulado, a fim de estabelecer lideres saudáveis, tudo isso de forma contextual e centrada em Jesus Cristo, o cabeça da igreja. É certo que o processo de plantação não é fácil. O solo da plantação de igrejas missionais deve ser regado pelas lágrimas derramadas diante de Deus em oração. Desejar plantar uma igreja sem oração é como arar um solo sem semente e desejar ver o crescimento.

Paulo orava e orava com lágrimas, ele derramava seu coração diante de Deus, e vivia o que pregava, mas ele sabia que só plantava e regava, pois o crescimento só pode vir unicamente pela ação poderosa de Jesus Cristo. Igrejas missionais levam a sério o ato da oração, a teologia Paulina de plantação de igrejas registrada em Atos nos deixa claro que não se planta igreja sem oração e sem dor, lágrimas e dependência, ou seja, para regar o solo da plantação missional usa-se as lágrimas que emanam de corações dependentes.

2.4 Contextualização 

Outro aspecto da teologia paulina para plantação de igrejas é a necessidade de contextualizar a mensagem de Cristo para os diversos tipos culturais. A contextualização é um tema bastante espinhoso em nossos dias, e devido a sua relevância e extensão será tratado de forma especial no próximo capitulo.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A plantação de igrejas missionais - Trabalho de conclusão de Curso.

1. IGREJA MISSIONAL

1.1 O que é uma igreja missional
          O termo missional tem sido amplamente usado no meio cristão atual, termo esse encontrado em literaturas cristãs, blogs cristãos, e tem até sido utilizado como nome para grandes conferências, ou seja, a palavra missional tem se tornado cada vez mais familiar à nossa cultura cristã evangélica. 
          Contudo, de onde surgiu e quando surgiu pela primeira vez esse termo missional. “A palavra missional foi usada pela primeira vez, com a conotação que temos hoje, em 1983, por Francis DuBose. (1983 apud COSTA, 2014, p. 21).
          Uma igreja missional é aquela que entende que o evangelho de Jesus Cristo é a mensagem atual para todos os tempos em que a humanidade transita, a igreja missional é uma igreja que aplica as verdades da velha mensagem da cruz com uma nova roupagem de proclamação como respostas para uma sociedade cética e secularizada.
          Ser uma igreja missional é entender que quando a velha mensagem da cruz é substituída por qualquer outro tipo de mensagem ela deixa de ser missional, pois, ser missional nada mais é que pregar o Cristo crucificado como fazia o apostolo Paulo pelas dezenas de cidades que passou.
          Costa (2014, p. 21) entende que a palavra missional é um termo mais elaborado e contextualizado para a palavra missionário, ser uma igreja missional é ser uma igreja em essência missionária, uma igreja missional é uma igreja que faz a missão porque fez dela um estilo de vida.
          Quando os membros de uma igreja compreendem seu propósito de vida como continuação da missio dei, eles passarão a viver o evangelho de forma integral, de maneira diária, e assim o evangelho será propagado e o nome de Cristo glorificado.
           “A palavra missional é entendida de modo diferente quando é usada para descrever a natureza da igreja. Na sua melhor definição missional descreve não uma atividade especifica da igreja, mas a própria essência e identidade da igreja”. (GOHEEN, 2014, p. 20).
          Então, uma igreja missional não é aquela que apenas realiza uma função evangelística ou cumpre eventos missionários da sua denominação em dias específicos e pré-determinados, o entendimento do termo missional vai além da ordenança da evangelização ou do cumprimento burocrático de um departamento.
          Uma igreja missional é a que tem em sua essência o kerigma do evangelho de Jesus Cristo, sendo essa proclamação um estilo de vida, o cristão que entende seu propósito como um discípulo de Jesus viverá uma vida missional em todos os lugares que estiver.  Conforme ensina Goheen (2014, p. 21) “[...] descrever uma igreja como missional significa definir a comunidade cristã inteira como um corpo enviado ao mundo e que existe não para si mesmo, mas para levar as boas-novas ao mundo”.

1.2 A igreja missional e a cultura
          Entendido que uma igreja missional é aquela que vive diariamente o evangelho nas ações e em suas palavras independente do local em que se encontra, temos que refletir na missionalidade da igreja como forma de criticidade em nosso cenário cultural.
          Uma igreja missional local é uma parte do corpo de Cristo que responde à luz das sagradas escrituras as perguntas que emanam dos clamores da sociedade em que está inserida. “A igreja é chamada a ser uma participante crítica em seu cenário cultural” (GOHEEN, 2014, p.21).
          Esse envolvimento da igreja nas esferas culturais é de suma importância para uma igreja missional, porque esse envolvimento na sociedade é o que chamamos de ser encarnacional, a exemplo de Jesus Cristo em sua encarnação como o verbo da vida em nosso mundo terreno. (STETZER, 2015, p.2012). 
          Então, missionalidade e encarnacionalidade são termos que devem caminhar juntos na proclamação da mensagem da cruz, missional quanto ao kerigma diário da velha mensagem da cruz em uma nova roupagem e encarnacional no aspecto mais profundo do envolvimento nos mais diversos cenários sociais.
          Nesse sentido Stetzer afirma que:
A igreja missional é encarnacional, e não atracional, em sua eclesiologia. Por encarnacional queremos dizer que ela não cria espaços santificados para os quais o não crente deve vir para ter um encontro com o evangelho. Pelo contrário, a igreja missional se antodesmonta e penetra pelas fissuras e fendas da sociedade para ser Cristo para aqueles que ainda não o conhecem. (2015, p.212).

              Neste estágio do capitulo devemos ter em mente que ser uma igreja missional é viver em seu dia-a-dia a prática da pregação do evangelho, não de forma superficial, mas de maneira encarnacional, ou seja, por meio de relacionamentos e amizades. É ser literalmente, a partir do evangelho, resposta aos que vivem nas tenebrosas duvidas existenciais.
          A igreja missional não cria elementos santos para que incrédulos se acheguem a eles, antes vai ao encontro desses para por meio da vida diária proclamar o evangelho diário que certamente penetrará o coração, e será resposta para o desespero que a depravação criou.
          A plantação de igrejas missionais tem crescido fortemente no Brasil. De tempos em tempos, igrejas surgem com a intensão de serem missionais, e isso é graça de Deus.
             Ed. Stetzer (2015, p. 15) diz que “estabelecer uma igreja missional significa plantar uma igreja que faz parte da cultura que você quer alcançar”. Isso quer dizer que a plantação de igrejas missionais apenas será de fato missional quando essas igrejas encarnarem na cultura local. Logo, uma igreja que se intitula missional, não pode viver alienada à cultura e aos temas em voga.
          Não poderia terminar este capitulo sem antes entrar no assunto da vida diária pautado por um evangelho integral. Se de fato desejamos ser uma igreja missional temos que fazer uma leitura mais cirúrgica da vida de Jesus na terra.
          Ao estudarmos os evangelhos percebermos uma integralidade na vida de Jesus, uma conexão entre teoria e prática, fala e ação, ortodoxia e ortopraxia, ou seja, na vida de Jesus vemos uma forma missional e encarnacional na proclamação das boas novas.
          Uma igreja missional é uma igreja que se importa primordialmente com conversões, ou seja, incrédulos sendo resgatados pelo poderoso evangelho de Jesus Cristo e sua obra de redenção na cruz.
          Em nosso contexto pós-moderno o relacionamento e a amizade tem sido uma arma poderosa para anunciar a Cristo.
          No aspecto missional e encarnacional de uma plantação não podemos nos iludir com os números. Igrejas missionais preocupam-se com o crescimento por meio de conversões e não por meio de transferências, não que isso seja ruim, mas igrejas missionais tem como principal objetivo alcançar novos corações para Cristo.
          Chester e Timmis (2013, p. 08) afirmam no livro Igreja Diária que: “Algumas igrejas predominantes crescem, mas muito desse crescimento é fruto de transferência e não de novas conversões”.
          Jesus foi o maior exemplo da prática missional, por onde passava, ele sempre encontrava um campo para a pregação das boas novas. Cristo encarnou-se na sociedade e pregou a todos os tipos de pessoas.
           Cristo viveu integralmente a proclamação do evangelho, ele estava nos campos, nos bosques, nas praças, pregava em barcos, debaixo de árvores, anunciava o reino por meio de relacionamentos quando se assentava à mesa no partilhar das refeições.
          O que uma igreja missional faz? Ela encontra as pessoas no contexto da vida diária. “Quando chamamos a igreja a uma missão diária, reconhecemos que isso é o que muitos cristãos já tem feito: sendo bons vizinhos, colegas, membros de família, fazendo o bem diante da hostilidade, testemunhando de Cristo no contexto da vida diária.” (CHESTER; TIMMIS, 2013, p. 09).
          Igrejas missionais pregam a mensagem revelada por Cristo aos apóstolos de forma contextualizada. Falaremos sobre a contextualização em um capitulo a parte.
          A partir do evangelho igrejas missionais encarnam a cultura ao qual está inserida, vivendo como Cristo viveu, em ortodoxia e ortopraxia.
          Todavia, uma igreja missional é antes de tudo uma comunidade de santos, e por santo devemos entender que são aqueles que foram alcançados pelo poderoso evangelho de Cristo que muda nossa cosmovisão.

          Logo, para ser uma verdadeira igreja missional não basta se moldar, mas exige uma reflexão profunda sobre a cultura, para descobrir de forma criativa como comunicar as práticas eclesiásticas que se adaptem a cultura, mas que também a desafiem no que for contrario aos princípios sagrados. (KELLER, 2014, p.304).