Este texto é uma transcrição de um sermão ministrado em Julho de 2017 para um grupo de pastores, presbíteros e líderes de uma denominação em Brasília. Exposição feita com base no texto bíblico de 1
Pedro 5:1-4.
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A sociedade é flexível, ou seja, de
tempos em tempos a vida em conjunto muda. Antigamente a sociedade era em sua
maioria ruralista, as mulheres acordavam e iam preparar a massa para fazer o
pão enquanto os homens no curral retiravam o leite das vacas.
Hoje, somos uma sociedade de maioria
urbana, ou seja, acordamos ligamos uma maquina de café, pegamos o leite na
geladeira, compramos o pão na padaria e vamos ao trabalho.
O que isso tem haver com liderança
eclesiástica? Tudo!
Se você não consegue perceber a
mudança da sociedade e consequentemente das pessoas que serão suas ovelhas você
não vai conseguir lidera-las.
Peguemos nosso melhor exemplo, Jesus
Cristo, suas parábolas e seus ensinos, sempre era ligado ao contexto da
sociedade da sua época. Ele liderava as pessoas da sua época e lhes falava de
uma forma que elas entendiam.
I- Você não é superior
Uma das grandes características que
afastam as pessoas da igreja é o espirito de hierarquia. Devemos lembrar que a
característica papal e clerical dentro da igreja é fruto da distorção teológica
católica.
O pastor e presbíteros não são em
nada superiores aos membros da igreja; o que existe é apenas uma diferença de
funções a serem realizadas dentro da igreja que é o corpo de Cristo. (Observe o verso 01)
Outra questão muito importante,
antes de pastor, presbítero ou um líder de algum ministério você é cristão. O
oficio pastoral, presbiteral ou o cargo de liderança não pode definir sua
identidade. Você está líder, mas a liderança não é sua identidade. (Quando o oficio ou o cargo define sua
identidade, você não aceita que outra pessoa entre na liderança, ou lhe
confronte).
“Você é mais humilde e gentil quando
pensa que a pessoa para quem você está ministrando é mais parecida com você do
que diferente de você”. (Paul Tripp).
Você líder, pastor ou presbítero é
tão carente da graça quanto a sua ovelha ou seu liderado, na igreja de Jesus só
tem uma cabeça superior a todos, aquele que se humilhou e se fez homem, Cristo.
Seu conhecimento teológico não deve
produzir sentimento de superioridade. O conhecimento teológico produz um falso
pensar que somos mais maduros e sábios que o membro comum.
“Maturidade
não é meramente algo que você faz com sua mente. Não, maturidade tem a ver com
o modo que você vive a sua vida. É possível ser um ótimo conhecedor da bíblia e
necessitar de significativo crescimento espiritual”. (Paul Tripp).
II- “testemunha dos sofrimentos de
Cristo”.
A liderança de hoje não quer sofrer.
Querem uma igreja pronta, não querem orar e como num passe de mágica desejam ver
as pessoas entrando em suas igrejas, não querem gastar tempo ensinando,
evangelizando, aconselhando, confrontando e consolando.
O nosso modelo é o Cristo, servo
sofredor. Se você é líder e não está disposto a sofrer pelo evangelho, não
plante uma igreja, não seja um presbítero, não suba ao púlpito.
A liderança eclesiástica é forjada
no sofrimento. Paulo, veementemente instruiu
Timóteo acerca do sofrimento, a
liderança evangélica hoje se moldou ao tipo de chefia empresarial, apenas desejam
sentar em seus gabinetes e darem ordens, isso não é a liderança bíblica.
Observe o texto bíblico: “Testemunha
dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que será revelada”. Muitos
líderes querem apenas a segunda parte.
Você pode sofrer pela causa do
evangelho, ou por causa dos problemas que você como pastor e líder produz.
Muitas igrejas não crescem porque
não existe devoção na vida da liderança. Deus usa pessoas cheias do seu
Espirito Santo. O pecado cega e muitas vezes a liderança torna-se cega para com
seu pecado por causa do costume com o sagrado.
*Não lê a bíblia como devocional e
alimento para sua alma.
*Lê a bíblia apenas para montar
estudos e pregações.
*Não sente prazer e alegria em
meditar na lei do Senhor, isso se tornou algo mecânico.
Sem uma espiritualidade real, a
liderança de uma igreja vai sofrer, mas não como testemunha de Cristo, e sim,
devido à letargia espiritual. O sofrimento que Deus permite é instrumento para
nos levar sempre a devoção.
III- “não por obrigação”.
Obrigação
está ligada a profissão e o serviço à
devoção voluntária e amorosa. Todos vão trabalhar mesmo em dias que não desejam
isso é obrigação. Sofremos pelo reino não porque queremos, mas porque amamos o
chamado de Deus a nós.
Não existe nada mais perigoso para
uma liderança eclesiástica do que estar cumprindo a tarefa na igreja sem
entusiasmo e espontaneidade. A obrigação profissionaliza a vocação pastoral e o
chamado ao serviço no reino.
Quando vivemos no reino por
obrigação (religiosidade) perdemos a reverência a Deus. Perder a reverência a
Deus reside em fazer as coisas por ‘obrigação’ e não por amor.
“Você
parou de observar e, em sua falha em ver, você deixou de ser motivado e
agradecido. A beleza que uma vez o atraiu ainda está para ser vista, mas você
não a vê e não pode celebrar o que não consegue ver”. (Paul Tripp).
Isso é fruto do acostumar-se com o
sagrado e acostumar-se com o sagrado é perder o gozo, alegria de estar na
presença de Deus. Quando nos acostumamos com o sagrado, perdemos a reverência,
pois, o sagrado deve sempre produzir temor em meu coração, deve sempre me
lembrar da grandeza de Deus e da minha miserabilidade.
Lideres que perdem a reverencia a Deus, passam a cumprir
um ministério para si mesmo.
Sem reverencia você não consegue
cumprir seu ministério “espontaneamente,
segundo a vontade de Deus”. Percebe? A liderança saudável cumpre seu papel
de forma espontânea em amor e segundo a
vontade de Deus, mas como fazer isso sem reverência, como realizar isso sem
devoção?
“Reverência a Deus deve ser a razão para
eu tratar a minha esposa do modo como trato e exercer minha paternidade com
meus filhos da maneira como o faço. Ela deve ser a razão para eu atuar do jeito
que atuo em meu trabalho ou para lidar com minhas finanças do modo como lido.
Ela deve estruturar a forma como penso sobre a possessão física e pessoal de
poder. A reverência a Deus deve moldar e motivar o meu relacionamento com minha
família e meus vizinhos. A reverência a Deus deve dar a orientação quanto à
maneira como eu vivo como cidadão da comunidade mais ampla”. (Paul tripp)
IV- “Nem como dominadores”
Muitas vezes agimos como dominadores
sobre as ovelhas de Cristo sem nem percebermos isso.
Autoridade com humildade prontamente
será reconhecida pela igreja, autoridade não é algo que conquistamos, mas é
algo que recebemos das pessoas. Naturalmente a igreja reconhece sua autoridade,
quando a liderança não é dominadora.
“Um
dos erros frequentemente cometidos por nós cristãos é que aprendemos a
repreender como Jesus, mas não a amar como Jesus”. (Joshua Harris).
Liderar sem dominar é liderar com
humildade, e humildade não é algo que faz parte de quem eu sou pela minha capacidade,
mas é fruto de uma vida de devoção a Cristo. Muitos líderes tentam em sua força
ser humilde.
Dominar é fruto da vocação por
obrigação, sem humildade, sem devoção.
“Os
cristãos são humildes porque seu conhecimento da verdade não é baseado em sua própria
inteligência, estudos ou perspicácia. Pelo contrário, seu entendimento é cem
por cento dependente da graça de Deus”. (Joshua Harris).
Agimos como dominadores sobre as
ovelhas de Cristo e sobre nossos liderados quando pensamos que por nosso oficio
pastoral, ou cargo de liderança somos superiores a eles, afinal, somos nós quem
lhes ensinamos as doutrinas bíblicas não é?
Não somos nós quem ensina as
verdades ao povo de Deus, é o próprio Deus por meio de sua palavra, nós apenas
reproduzimos aquilo que a palavra diz. Você quer que sua igreja cresça? Pregue
a palavra.
Não ser dominador é ter claro em sua
mente que TODOS nós somos dependentes da graça de Cristo, pensar diferente te
levará a ser um dominador, pois, você se achará mais espiritual que o outro.
“Passamos do limite quando estamos mais
focados em dominar tudo que diz respeito à teologia do que em ser dominados por
Cristo” (Joshua Harris)
O pastor se torna um dominador
quando ele tenta liderar um grupo de pessoas que não acredita em seus projetos
ministeriais, e então, para tentar fazer dar certo ele começa a dominar, mas
ele não percebe que isso só piora sua liderança e o crescimento da sua igreja,
afinal, quando ele domina é porque ele fez da liderança sua identidade, algo
como seu e não do Senhor.
O pastor que domina sua igreja é
ególatra, tem sentimento de grandeza própria, tem orgulho de si mesmo, acredita
que tudo que dá certo apenas dá por causa da sua pessoa e do seu esforço.
“Eu
plantei, Apolo regou; mas foi Deus quem deu o crescimento” (1 Coríntios 3:6)
O dominador não reconhece a
necessidade da graça, Paulo reconheceu que foi Cristo quem fez a igreja de
corinto crescer, e Paulo por ser um servo da igreja e não dominador não teve
problema algum em reconhecer o bem dos ensinos de Apolo à igreja que ele
fundou.
O pastor dominador nas palavras de
Samuel costa: “Amam os primeiros lugares
e odeiam quando outros ameaçam tirar-lhe o lugar que julgam ser-lhes cativo e
eterno”.
O pastor e líder dominador é o
oposto do humilde e servo, o dominador tem a síndrome de celebridade, e busca a
glória própria.
“Ela fará de você alguém com quem é
difícil trabalhar e será quase impossível para as pessoas mais próximas a você
ajuda-lo a ver que você se tornou difícil. Ela o levará a se cercar de pessoas
que, frequentemente, dizem sim e, frequentemente estão prontas a concordar. Ela
o deixará espiritualmente insensato e moralmente desprotegido. E tudo isso
acontecerá sem que você note porque você permanecera convencido de que está
perfeitamente bem. Quando confrontado, você se lembrará da sua glória. Quando
questionado, defenderá sua glória. Você negará sua cumplicidade em problemas e
sua participação em fracassos. Você terá muito mais habilidade em atribuir
culpa do que em participar da culpa. Você será melhor em controlar do que em
servir. Você constantemente confundirá ser um embaixador com ser um rei”. (Paul
Tripp)
Conclusão: “mas servindo de exemplo ao
rebanho”
O sentimento que houve em Jesus foi
que seu reino seria estabelecido pela humildade e serviço, não tem como ser pastor,
líder e lutar pelo evangelho sem humildade e sem servir ao próximo.
Jesus se esvaziou porque ele é Deus
(Kenosis). Eu e você não nos esvaziamos, não há do que se esvaziar, somos
pecadores, falhos, não temos poder e nem glória. Somos vasos de Barro, Cristo
não, ele é glorioso, poderoso, santo.
“A
forma de homem está em todos os homens por natureza, mas a forma de servo o
homem só alcança através da obediência”. Jonas Madureira.
Desejas
ser um bom líder? Apenas sirva!
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