segunda-feira, 30 de abril de 2018

Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.


O relato bíblico da criação em Gênesis mostra que todas as coisas foram criadas “ex-nihilo”, do nada. Porém, a palavra foi à forma usada por Deus para chamar do nada à existência.
    Disse Deus: “Haja luz”. E houve luz.
    Disse Deus: “Haja firmamento”. E houve firmamento.
    Disse Deus: “Produza a terra os vegetais” e a terra produziu
Consegue perceber que nas palavras de Deus existe poder? Tudo veio à existência por meio da palavra onipotente de Deus. Ele disse: “Haja luminares no firmamento celeste” e assim foi.  
O 1º mandamento ainda no Jardim do Éden foi verbal: “Podes comer livremente de qualquer árvore do jardim, mas não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal; porque no dia em que dela comeres, com certeza morrerás” (Gn 2.16-17).
Quando Deus faz uma aliança com Abraão, faz por meio da palavra, não tinha um contrato escrito, um cartório para dar uma segurança, não, apenas a palavra.
Então, podemos notar que a Palavra, biblicamente tem uma importância, e obviamente, as palavras produzem percepções da realidade e consequências nessa mesma realidade também.
Já na própria lei mosaica, do povo Judeu, Deus se atentou para essa questão da palavra. Ele mais do que ninguém sabe que os homens têm nas palavras poder, não para criar, mas para edificar algo construído ou para destruir algo consolidado.
Esse mandamento protegia as pessoas no AT e sua reputação, pois no sistema da época para haver julgamento deveria existir testemunhas e falsear contra o outro era desmoronar com a justiça.
Apesar do nosso sistema de justiça considerar o testemunho verbal como elemento probatório para um julgamento, o falso testemunho não é tratado tão severamente como era no contexto judaico antigo.
A testemunha falsa em um crime de homicídio caso fosse descoberta deveria pagar com sua vida pelo falso testemunho, se o ilícito fosse um roubo e a pena era ter as mãos cortadas, aquele que levantou falso testemunho no caso deveria ter suas mãos amputadas. Esse entendimento está expresso na lei mosaica (Deuteronômio 19.16-21).
E em nosso contexto eclesiástico a palavra também tem poder e não seria diferente, e com ela podemos destruir vidas, ministérios, famílias, casamentos, amizades. E a grande verdade é que tudo que é dito apenas sinaliza o estado do coração.
José do Egito passou dois anos preso injustamente, pois, a esposa de Potifar proferiu falso testemunho contra ele, inventando algo que não aconteceu, uma tentativa de José em ter relação sexual com ela.
Nessa primeira parte do mandamento ‘não dirás’; devemos lembrar-nos do que a escritura nos ensina e que é de muita importância:
“Pois a boca fala do que o coração está cheio” (Mateus 12.34).
É por isso que a Teologia chama as escrituras de Vox Dei, a voz de Deus, ler a escritura é ouvir a Deus.
A falsidade é completamente oposta ao evangelho. Certa vez Jesus disse: “Eu sou o caminho, A VERDADE, e a vida”. Percebe? Ter nos lábios a falsidade é ser instrumento de satanás e boca do maligno.
“Seja, porém, o vosso falar sim, sim; não, não; pois o que passa disso vem do maligno” (Mateus 5.37).
A falsidade é tudo aquilo que o evangelho condena. Jesus disse: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique para sempre convosco, o Espírito da VERDADE” (João 14.16-17).
Resultado de imagem para pixabay
A lei de Deus, o AT e o NT, condena a falsidade ou o falar falsamente contra o próximo porque a falsidade se opõe ao amor sincero, e a escritura nos diz que Deus é amor. Falar falsamente contra o outro é agir de forma totalmente contrária à natureza de Deus, e assim é ser contrário ao que fomos criados para ser, afinal se somos e somos imagem e semelhança do Deus que é amor, então, amemos uns aos outros em verdade.
"Deus abomina a testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos” (Pv 6.19).
O que age com falsidade trabalha em favor da desunião no corpo de Cristo. A verdade conecta os filhos de Deus em união pela causa do evangelho, a falsidade rompe as relações produzindo feridas nos membros de Cristo que é a igreja
“Portanto, eu, prisioneiro no Senhor, peço vos que andeis de modo digno para com o chamado que recebestes, com toda humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando cuidadosamente manter a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Efésios 4.1-3).
Percebe que o texto não diz: “Não fale do outro”, mas ele diz: “não fale falsamente”. Devemos sim confrontar e alertar os irmãos de possíveis pessoas que agem falsamente em nosso meio, isso é um dever de todo cristão.
Exemplos
a)“Eu vos escrevo essas coisas tendo em vista os que vos querem enganar” (1 João 2.26).
E o contexto aqui é de João denunciando e falando daqueles que agem falsamente entre o povo de Deus, que na carta ele traz como “anticristos”.
b) “Já vos escrevi por carta que não vos associásseis com os imorais. Não me referia aos imorais deste mundo, nem aos avarentos, ladrões ou idólatras. Nesse caso, seria necessário que saísses do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for imoral ou ganancioso, idólatra ou caluniador, bêbado ou ladrão. Com esse homem não deveis nem sequer comer” (1 Coríntios 5.9-11).
c) “Escrevi à igreja, mas Diótrefes, que gosta de ser o líder entre eles, não nos recebe. Por isso, se eu vos visitar, trarei à memória as coisas que ele faz, proferindo palavras insensatas e maldosas contra nós. Como se isso não fosse o bastante, ele não recebe os irmãos, como também proíbe de fazê-lo os que querem recebe-los e ainda os exclui da igreja” (3 João 9-10).
Não se cale diante do falso, do mentiroso. Revele a verdade de Jesus e lembre-se das palavras de Paulo: “Acaso procuro eu agradar a homens?”.
Percebemos que não podemos falar falsamente contra o próximo, mas quem é o próximo? Qualquer um. Todo aquele que fala falsamente contra o outro na verdade não está ferindo o outro apenas, antes, afronta o próprio Cristo.
“E caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? O Senhor respondeu: eu sou Jesus, a quem persegues” (Atos 9.4-5).
Mas, a quem de fato Saulo perseguia? O seu próximo!
"Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que rastejam sobre a terra” (Gênesis 1.27-28).
Note que Deus dá autoridade aos homens para dominar sobre a natureza e os animais, mas não os autoriza a dominarem sobre o seu semelhante. Muitas vezes o falso testemunho sobre o outro é a expressão do desejo humano de domínio.
A esposa de potifar para ter o domínio, profere um falso testemunho. Já que ele (José) não quis ir para cama com ela, ela levanta um falso testemunho para dominá-lo e conseguiu.
Quando desejamos prejudicar alguém, o que fazemos? Inventamos fatos ou distorcemos fatos que não são verdades, e assim, de certa forma exercemos domínio contra o próximo, o falso testemunho pode ser uma forma de domínio e isso é ferir o mandamento e um pecado contra Cristo.
A lei de Moisés dada por Deus protege os homens.  E ela promove essa proteção justamente pelo fato de sermos imagem e semelhança do próprio Deus.  
"Na nação da aliança cada pessoa merece desfrutar respeito por sua vida (não matarás), por seu relacionamento conjugal (não adulterarás), por seus bens (não furtarás), por seu nome (não dirás falso testemunho), violações desse padrão são rejeições grosseiras da vontade de Deus que criou” (Paul R. House).
O que fazer quando estou sendo caluniado? Como agir quando pessoas que se dizem amigas falam falsamente sobre mim? Como agir para com aquele que me cumprimenta e trama a maldade por detrás?
Olhe para Jesus! Temos que contemplar o feito da cruz, temos que imitar o Cristo que foi mudo ao matadouro. Temos que trazer à memória Jesus sendo acusado e se calando diante dos seus acusadores.
Se não olharmos para o autor e consumador da nossa Fé, trilharemos pelo caminho da retribuição, lembra do texto de 3 João? Diótrefes queria ser o dono da igreja, não queria receber algumas pessoas e não apenas isso, desejava exclui-las da igreja como se fosse dono dela.
Observe a continuação do texto: “Amado, não imites o mal, mas sim o bem. Quem faz o bem é de Deus, mas quem faz o mal não viu a Deus”.
Imitar a Cristo é ser injustiçado, caluniado, ouvir e saber que as pessoas estão tramando ao seu respeito, e mesmo assim demonstrar amor. Imitar a Cristo será por vezes sofrer o dano como ensina Paulo em prol da saúde da igreja de Cristo.
“Então o sumo sacerdote levantou-se e perguntou-lhe: Nada respondes ao que estes depõem contra ti? Jesus, porém, permaneceu calado” (Mateus 26.62-63).
Como usar as palavras de forma que não contrarie as escrituras? Como não ser um caluniador ou alguém que profira falso testemunho contra o próximo?
“Acima de tudo que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem às fontes da vida” (Provérbios 4.23).
O segredo para não usar as palavras indevidamente contra o próximo, e vimos que para Deus as palavras importam, reside em proteger o coração contra o outro.
Está em contabilizar as decepções, saber que seremos frustrados e mesmo assim não deixar que o coração fique amargurado, por ser tão difícil é que Jesus disse:
“Mas o consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que eu vos tenho dito” (João 14.26).
Pregue o evangelho para si constantemente, não permita seu coração trilhar a naturalidade do rancor, magoa e ódio. Afinal, quando muito se difama o outro, é porque a vida de oração e deleite nas escrituras está vazia há tempos, é impossível estarmos cheios de Deus e de intimidade com ele e ao mesmo tempo usar da boca e das palavras como instrumento de inveja e falso testemunho.
“Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim. Será que da mesma fonte podem jorrar água doce e água amarga?” (Tiago 3.10-11).
Percebe o segredo? Oração e silêncio. Temos que confessar que isso não é fácil, só quem já foi caluniado, só quem já sofreu nas mãos de pessoas falsas sabem como é difícil se manter em silêncio, quando o desejo é de retribuir e se defender.
Contudo, se quisermos viver as escrituras, temos de olhar para Jesus. Ele antes de ser preso, orou, durante a prisão e julgamento se silenciou, no momento da morte, clamou ao Pai. Entretanto, ao terceiro dia, Deus o exaltou. Nunca duvide das promessas bíblicas: “Deus abate o orgulhoso e exalta o humilhado”. Estão falando falsamente ao seu respeito, silêncio e oração. Você está sendo o instrumento para falar falsamente, quer seja por inveja, ciúmes, ou o qualquer outro motivo; cuidado de Deus não se zomba, perseguir com testemunho falso um crente é perseguir a Cristo.
Que nossas palavras sejam de edificação, exortação, benção, graça, consolo, ânimo. Que possamos ser instrumentos para abençoar o outro e ajudar o próximo.
Que possamos ser verdadeiros, sinceros, íntegros. Que não caíamos nas armadilhas do nosso coração que é enganoso, não seja um politicamente correto, seja um cristão, exorte quando tiver que exortar, não tenha medo de perder as pessoas em prol da verdade, lembre-se: “Jesus é a verdade”.
Que possamos amar o outro, o nosso próximo que é a imagem de Deus. Todos somos feituras de Deus e obras das suas mãos e não há um maior que o outro, na verdade, Paulo diz que devemos ter o outro como superior a nós mesmos. O outro nunca pode ser visto como um adversário, no reino de Deus todos somos membros de um só corpo. Por isso não há motivos para testemunhos falsos.
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra que cause destruição, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que transmita graça aos que a ouvem” (Efésios 4.29).
Deus nos abençoe!
*Sermão ministrado no dia 29/04/2018 e transformado em texto.

sábado, 31 de março de 2018

Páscoa: ação, comunhão e graça


Paixão, Cruz, Sexta Feira, O Túmulo De Jesus

  A páscoa é o momento mais sublime da celebração cristã. Nela o cordeiro de Deus é morto e ressuscita dentre os mortos, nela o Filho de Deus entrega seu espírito (tetelestai) para a salvação dos eleitos do Senhor. Porém, a páscoa nos conduz a uma ação, observe: "E os israelitas saíram e fizeram conforme o SENHOR havia ordenado a Moisés e Arão" (Êxodo 12.28). 

 Um povo estava cativo e foi liberto, era escravo e tornou-se livre, estava em escuridão e a luz raiou, entretanto, tudo isso foi feito por Deus para que o seu povo fosse um povo ativo. Pensar sobre a cruz, a morte e a ressurreição é importante, porém, essa reflexão deve produzir ações dentro do Reino de Deus. Ao serem libertos o povo judeu recebeu uma ordem: "tomem posse da terra prometida". 

 Jesus Cristo quando liberta o homem de Gadara que estava aprisionado por legiões de demônios deixa uma ordem bem clara: "Vai para casa, para a tua família, e anuncia-lhes quanto o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti". Percebe? Toda libertação que Cristo realizou em seu ministério terreno veio acompanhado de uma ordem para agir. A páscoa é isso, Jesus libertando seu povo e dizendo: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura". 

 Entretanto, a páscoa não é apenas libertação, ela mostra a comunhão: "Dizei a toda a comunidade de Israel: No décimo dia deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, conforme a família dos pais, um cordeiro para cada família. Mas, se a família for pequena demais para um cordeiro, deverá comê-lo com o VIZINHO mais próximo de sua casa conforme o número de pessoas" (Êxodo 12.3-4). Exatamente na instituição da celebração da Páscoa; Deus ordena que as pessoas exerçam a comunhão entre si, a comunhão como família e como povo de Deus. Certamente, o cordeiro foi o animal escolhido por Deus como sinal da morte do 'Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo'. 

 Mas, também, a páscoa é a manifestação graciosa de Deus: "Mas o sangue servirá de sinal nas casas em que estiverdes. Se eu vir o sangue, passarei adiante, e não haverá praga entre vós para vos destruir, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxodo 12.13). O sangue do cordeiro nos umbrais das portas das casas dos Israelitas era o prenúncio do Sangue do Filho de Deus que seria derramado não em umbrais, mas nas pesadas madeiras da cruz. Isso é graça, um povo pecador sendo redimido por um Deus santo e justo. 

 Celebre a páscoa, não apenas como um evento histórico, não como um mero ritual ou uma costumeira observação litúrgica. Celebre a páscoa como uma realidade espiritual que produz em nós, graças a vitória de Jesus na cruz, uma compreensão do nosso dever de agir, uma profunda comunhão com Cristo e com sua igreja, e o sentimento de profunda gratidão pela graça derramada sobre nós. 

  Encerro essa reflexão com uma oração

"Todo-poderoso e amantíssimo Pai, nós erramos e nos desviamos como ovelhas perdidas. Seguimos excessivamente os desejos e inclinações de nosso coração. Nós transgredimos tuas santas leis. Fizemos coisas que não devíamos fazer e não fizemos o que devíamos ter feito. Não há nenhum bem em nós. Mas Tu, ó Deus, tem misericórdia de nós, miseráveis pecadores. Sê próximo daqueles que confessam seus pecados. Restaura, Senhor, aqueles que estão arrependidos, de acordo com tuas promessas aos homens através de Jesus Cristo, nosso Salvador. E concede, Pai misericordioso, por ele,que andemos uma vida santa, reta e sóbria daqui por diante, para a Glória de teu nome. Amém."
Livro de Oração Comum

    

sábado, 30 de dezembro de 2017

Deus: revigore minhas mãos




Neemias quando soube que seu povo estava passando por dificuldades ao voltarem do exílio para Jerusalém se senta, chora, começa a orar e jejuar por eles. Porém, Neemias não fica apenas no aspecto da oração e jejum, ele se levanta como o “confortador”, e esse é o significado de seu nome em hebraico tiberiano (Nəḥemyāh).

O povo sofria e estava vulnerável, à cidade não tinha seus muros de proteção, o povo de Deus estava necessitado de trabalhadores para reconstruir seu lugar de habitação. O que eu e você podemos aprender com Neemias? Devemos ser confortadores na igreja de Cristo e não apenas consumidores. 

Neemias convoca outras pessoas para ajudar na reconstrução do muro, muitos foram, entretanto, outros se levantaram para atrapalhar o serviço. Quantos Sambalate, Tobias e Gesém não existem dentro das igrejas desejando atrapalhar o serviço daqueles que desejam apenas construir muros, edificar a igreja, ser martelo nas mãos do Deus todo poderoso? Neemias nos ensina a depender de Deus, e também agir na dependência dele.  O texto bíblico diz: “Nós, porém, oramos ao nosso Deus, e colocamos guardas para proteger-nos deles de dia e de noite” (Neemias 4.9). 

No serviço do Reino de Deus devemos ser totalmente dependentes dele, mas, devemos ser prudentes, não podemos ser ingênuos quanto aos Sambalate, Tobias e Gesém que tentarão nos impedir de edificar por meio de Jesus a sua igreja. Esses apenas falam, não contribuem com nada, são mexeriqueiros, faladores, e que pelas suas palavras tentam produzir descréditos aos servidores do Reino de Jesus: “O que esses fracos Judeus estão fazendo? Será que vão se fortalecer? (...) Mesmo que construam, uma só raposa derrubará esse muro de pedras” (Neemias 4.2-3). 

Aqueles que não desejam servir e apenas atrapalhar são insistentes, seu foco e objetivo não é a edificação do Reino de Cristo, mas de um reino particular, que possamos fazer igual à Neemias, não dar ouvidos, não perder tempo, temos muito trabalho a realizar na igreja de Jesus, façamos como fez Neemias: “Estou empenhado numa grande obra e não posso descer. Por que eu deveria parar e deixar a obra para encontrar-me convosco?” (Neemias 6.3). 

A pressão aumentou muito sobre Neemias e sobre o povo que estava reconstruindo os muros de Jerusalém, quando as pressões de 2018 vierem sobre você faça como Neemias: “Pois todos eles tentavam atemorizar-nos, dizendo: Eles vão abandonar a obra; ela não será concluída. Então pedi a Deus: Fortalece as minhas mãos!” (Neemias 6.9).

Sê forte e corajoso, 
Feliz 2018,
Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Natal - Verbum dei

O Natal é a celebração do Verbo que se fez carne. A palavra de Deus que é Cristo, o Verbo, o Logos, veio habitar em meio aos homens. A causa da encarnação, morte e ressurreição de Jesus gira em volta do chamado da igreja para ser seu corpo místico nesta terra.

Cristo é a palavra pregada, e se ele é o evangelho e a boa notícia, qualquer coisa que se torne central em nossos cultos que não seja a palavra esvazia toda a significância de nossas reuniões. Porém, não é qualquer palavra, é a palavra de Deus, a Verbum dei, é a palavra que produz transformação, que revela o pecado, denuncia o erro, aponta o caminho, sinaliza a Cruz, mostra a graça, gera em Cristo a redenção e paz.

Igrejas cuja palavra é rasa, também não cumpre o papel em colocar as escrituras como centro do culto e da vida. Salomão o sábio disse: "Se vos converterdes pela minha repreensão, derramarei sobre vós o meu espírito e vos revelarei minhas palavras" (Pv 1.23). Salomão está dizendo que a repreensão por meio da palavra é que produz conversão, sabe porque "temos igrejas cheias de pessoas e pessoas vazias de Deus?" (A.W.Tozer), porque nossas palavras são vazias de repreensão, exortação, de chamado a uma profunda compreensão da nossa miserabilidade.

Após as palavras de repreensão, Salomão afirma que o Espírito de Deus seria derramado sobre os convertidos e assim receberiam a revelação das palavras. Sabe porque não há avivamento em nossas igrejas e na vida das pessoas? Porque as pregações são uma autoajuda (tipo coach), apenas de bênçãos, apenas com a intencionalidade de agregar.

A palavra pregada com fidelidade é o que gera vida, produz arrependimento e transforma sociedades. Foi a verdade pregada que fez Cristo ser perseguido, foi a verdade das escrituras que em Atos fez a igreja crescer. A missionalidade da igreja está intrinsecamente relacionada com a Palavra de Deus, a história nos mostra isso, "a palavra era pregada e Deus acrescentava".

Uma igreja que apresenta domingo após domingo mensagens que não alimenta é o mesmo que oferecer a graça barata ensinada por Dietrich Bonhoeffer:

"A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a ceia do Senhor sem confissão de pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado".

Pregação sem perdão é a mensagem positiva, sem exortação. Batismo sem disciplina é a entrada desenfreada e sem zelo na comunhão da igreja local, a ceia sem confissão é a ceia ministrada sem ensinar aos membros sua importância, é a ministração meramente ritualística, a graça barata é um evangelho e uma caminhada cristã sem a cruz, sem a morte do eu, sem a renúncia dos desejos da carne.

Se você não leva a palavra de Deus a sério, neste Natal te convido a repensar e reorientar sua vida diante da palavra que se fez carne e morou entre nós, afinal, "O Natal é de carne e osso" (Antonio Carlos Costa). 
Comemore o Natal
Ame a Palavra
Leve as escrituras a sério.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Natividade - O Espírito se fez carne.



 “Porque um menino nos nasceu” (Isaías 9.6). O Natal é mais do que a celebração do nascimento, ele é a celebração da revelação, Cristo nasce como um menino, entretanto, ele existe desde os tempos eternos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1.1).

 O Natal não é a celebração de um nascimento comum, o Deus eterno tocava em solo terreno, a eternidade beijava o tempo e descortinava a realidade invisível da relação trinitária para habitar em meio aos homens.

 O Natal produz um clima diferente (sem misticismos, apenas constatação) nas pessoas, elas são mais solicitas nessa época do ano, mais solidárias e abertas aos discursos espiritualistas de certa forma. Devemos compreender que o Natal é a celebração daquele que governa nossa história: “O governo está sobre os seus ombros” (Isaías 9.6), daquele que é o nosso conselheiro, e que maravilhoso conselheiro ele é, devemos celebrar no Natal não apenas um nascimento, não somente uma revelação, mas, nossa filiação por meio de Jesus em um “pai eterno”, e que nele existe a segurança no caos, ele é o nosso Deus forte.

 Sim, o Natal é a celebração do espírito que se fez carne, do Deus trino que veio se relacionar conosco. O Messias prometido chegou mostrando que as promessas de Deus se cumprem, ele veio como a luz que ilumina as trevas existências da humanidade. No Natal celebramos o caminho pelo qual nossas vidas são guiadas, a verdade que nos livra do engano e a vida que se entregou para O celebramos eternamente. 

 O Natal é a celebração conjunta dos Filhos de Deus, como bem disse R.C.Sproul: “É difícil acreditar em um Deus zangado por ver seu povo unido celebrando o nascimento de seu filho”.

Celebre o Natal.
Celebre a Cristo.
Comemore a Vida!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A geração dos afetos

Uma das grandes realidades de nosso tempo reside no fato de que as
pessoas supervalorizam os afetos. Os desejos internos do coração têm sido o
regente dos comportamentos e das ações de nossa geração. Vivemos em uma
geração que é amante de si mesma.

Paulo, escrevendo a Timóteo, em sua segunda carta mostra que o fim
dos tempos seriam difíceis, não devido as guerras, corrupções políticas, fome,
miséria, ou coisas do gênero. Paulo mostra que as dificuldades dos últimos
dias se dariam devido ao amor a si mesmo.

“Sabe, porém, que nos últimos dias haverá tempos difíceis; pois os homens
amarão a si mesmos” (2 Timóteo 3.1-2).
É interessante notar que em nossa geração, que denomino de geração
dos afetos, tudo gira em torno dos afetos, dos desejos, das vontades, em
última instância, do coração. Entretanto, uma geração que é guiada pelos
afetos é uma geração liquida, frágil, é uma geração que olha para dentro de si
tentando encontrar em si uma fonte que alimentará o sentido existencial e a
satisfação pessoal.
A geração dos afetos é perversa porque usa como direção da vida
unicamente os afetos pessoais, e quando nossos afetos são o regente da vida,
o próprio afeto se torna um ídolo. Ou seja, a geração dos afetos é ególatra,
pois idolatra a si própria, torna seus desejos o seu deus. Fomos ensinados e
ouvimos por muito tempo que devemos ter “amor próprio”, contudo, esse é um
termo que não é ensinado nas sagradas escrituras, a Bíblia não ensina que
você deve se amar e ter os seus afetos como guia da sua existência.
Pelo contrário, ela afirma que nosso coração, a fonte de nossos desejos
e o centro das nossas ações, é enganoso e não confiável. Talvez você se
pergunte: mas e o “Ame ao próximo como a ti mesmo”? Então eu tenho que me
amar, certo? Claro! Contudo, o amor com o qual você deve se amar não é o
que olha para dentro de si e percebe bondade, mas, antes, deve ser um amor
mediado pela pessoa de Jesus Cristo. Todo “amor próprio” alienado do amar a
Jesus em primeiro lugar com todo seu coração, força, e com toda a sua alma,
não é “amor próprio”, mas uma sabotagem a si mesmo. Você apenas ama o
próximo por amar antes a Cristo.

Em Romanos 3, a Bíblia nos mostra que não existe um homem justo
sequer, todos são depravados, pecadores, enganadores, por isso, não existe
“amor próprio” e por isso também que apenas amamos o outro quando antes
amamos a Jesus que nos capacita ao amor altruísta. Quando você ama a si
mesmo antes de amar a Jesus Cristo, na verdade você é um idólatra dos
afetos.

O que é a ganância? O desejo de satisfação através do dinheiro, mas, o
dinheiro não o satisfaz. Se você tivesse um carro e pudesse comprar um
helicóptero, compraria? E se pudesse ter um Jato? Não pensaria duas vezes.
O dinheiro não satisfaz, apenas produz uma falsa sensação de sentido.
O que é ser incapaz de perdoar? Um idolatra dos afetos, quando tem
seus desejos feridos, torna-se uma fera, um animal irracional. Já ouviu falar do
jovem que matou a namorada por ela ter pedido o fim do relacionamento?
A geração dos afetos é assim: perversa, ególatra, gananciosa, incapaz
de perdoar. Afinal, a lista de 2 Timóteo 3 tem dezoito características daqueles
que são amantes de si mesmos. Nesse sentido, quero chamar atenção a uma
dessas características: “mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus”. A
nossa geração não conhece a Deus e logo dele é inimiga porque usa a Palavra
de Deus não como a verdade absoluta, mas como uma questão de opinião,
não compreendem que a Palavra deve ser seguida, amam mais a si do que a
verdade de Cristo, mais seus afetos do que a Cruz de Cristo.

Os amantes de si mesmos não conhecem a Deus porque orientam sua
vida a partir de si ao invés de o fazerem pela verdade revelada pelo próprio
Deus. Não olham para a cruz, apenas para seu ventre, seu umbigo tem sido
seu deus e o coração o altar dos sacrifícios. Esses não entendem que a
satisfação apenas reside em Deus, pois somos a imagem e semelhança dele,
temos dentro de nós o sopro da trindade, fomos por ele e para ele criados.
CS Lewis afirma: “As criaturas não nascem com desejos que não
possam ser satisfeitos. Um bebê sente fome; pois bem, há uma coisa chamada
leite. Um patinho deseja nadar; pois bem, existe uma coisa chamada água. Os
homens sentem desejo sexual; pois bem, existe uma coisa chamada sexo. Se
encontro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode
satisfazer, a explicação provável é que fui feito para um outro mundo. Se
nenhum dos prazeres terrenos o satisfaz, isso não prova que o universo seja
uma fraude. Provavelmente os prazeres deste mundo nunca foram destinados
a satisfazê-lo”.

A geração dos afetos resiste à verdade, pois ela desconstrói todo amor
próprio, a verdade diz que devemos negar a nós e carregar a cruz para assim
podermos seguir a Jesus. A verdade diz que devemos amar somente a Deus e
apenas a ele prestar culto. A verdade mostra que nossa vida deve ser
orientada a partir da sagrada escritura, afinal: “Inquieto está o nosso coração
enquanto não descansar em ti” (Agostinho).

A mensagem do evangelho é uma boa notícia que mostra nosso pecado,
erro e fragilidade, mas aponta para uma solução definitiva, a redenção em
Jesus, a reordenação dos afetos a partir da cruz. O evangelho é a mensagem
que revela a fonte que saciará nossa satisfação existencial, nossos desejos,anseios e afetos.
O evangelho aponta por meio da doutrina apostólica que
nosso procedimento deve ser pautado nos ensinos de Jesus. Paulo mostra
quem são os amantes de si mesmo, mas, revela que Timóteo é diferente: “Tu,
porém, tens observado a minha doutrina” (2 Timóteo 3.10). Reordenar o
coração à Cristo em meio a uma geração dos afetos é padecer perseguições,
basta tornar público seu repudio ao aborto, a prática homossexual e a não
concordância com a ideologia de gênero. Todos esses temas defendidos pela
geração dos afetos, dos amantes de si mesmos que tornam seus desejos o seu
deus.

Reordene seus afetos, centralize seu coração como altar a Jesus. Não
olhe para dentro de si como caminho para proceder nessa vida, antes, trilhe
pela estrada do evangelho carregando sua cruz. Creia na palavra, viva a
palavra, ame a palavra de Deus e faça parte ativamente de uma igreja local -
uma das marcas da geração perversa dos afetos é a falta de compromisso,
afinal, quem é regido pelos desejos é fiel somente naquilo que acredita lhe
beneficiar, os amantes de si mesmos não conseguem serem comprometidos
com aquilo que é necessário, mesmo que confronte seu conforto - Somente
assim seremos livres dessa perversa geração dos afetos.
“Toda a escritura é divinamente inspirada e proveitos para ensinar, para
repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de
Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra” (2
Timóteo 3.16-17).