O
relato bíblico da criação em Gênesis mostra que todas as coisas foram criadas
“ex-nihilo”, do nada. Porém, a palavra foi à forma usada por Deus para chamar do
nada à existência.
Disse
Deus: “Haja luz”. E houve luz.
Disse
Deus: “Haja firmamento”. E houve firmamento.
Disse
Deus: “Produza a terra os vegetais” e a terra produziu
Consegue perceber que nas palavras
de Deus existe poder? Tudo veio à existência por meio da palavra onipotente de
Deus. Ele disse: “Haja luminares no firmamento celeste” e assim foi.
O 1º mandamento ainda no Jardim do
Éden foi verbal: “Podes comer livremente
de qualquer árvore do jardim, mas não comerás da árvore do conhecimento do bem
e do mal; porque no dia em que dela comeres, com certeza morrerás” (Gn 2.16-17).
Quando Deus faz uma aliança com Abraão,
faz por meio da palavra, não tinha um contrato escrito, um cartório para dar
uma segurança, não, apenas a palavra.
Então, podemos notar que a Palavra, biblicamente
tem uma importância, e obviamente, as palavras produzem percepções da realidade
e consequências nessa mesma realidade também.
Já na própria lei mosaica, do povo
Judeu, Deus se atentou para essa questão da palavra. Ele mais do que ninguém
sabe que os homens têm nas palavras poder, não para criar, mas para edificar
algo construído ou para destruir algo consolidado.
Esse
mandamento protegia as pessoas no AT e sua reputação, pois no sistema da época
para haver julgamento deveria existir testemunhas e falsear contra o outro era desmoronar
com a justiça.
Apesar
do nosso sistema de justiça considerar o testemunho verbal como elemento
probatório para um julgamento, o falso testemunho não é tratado tão severamente
como era no contexto judaico antigo.
A testemunha falsa em um crime de homicídio
caso fosse descoberta deveria pagar com sua vida pelo falso testemunho, se o ilícito
fosse um roubo e a pena era ter as mãos cortadas, aquele que levantou falso
testemunho no caso deveria ter suas mãos amputadas. Esse entendimento está
expresso na lei mosaica (Deuteronômio 19.16-21).
E em nosso contexto eclesiástico a
palavra também tem poder e não seria diferente, e com ela podemos destruir
vidas, ministérios, famílias, casamentos, amizades. E a grande verdade é que
tudo que é dito apenas sinaliza o estado do coração.
José do Egito passou dois anos preso injustamente, pois, a esposa de Potifar
proferiu falso testemunho contra ele, inventando algo que não aconteceu, uma
tentativa de José em ter relação sexual com ela.
Nessa primeira parte do mandamento ‘não
dirás’; devemos lembrar-nos do que a
escritura nos ensina e que é de muita importância:
“Pois a boca fala do que o
coração está cheio” (Mateus 12.34).
É por isso que a Teologia chama as
escrituras de Vox Dei, a voz de
Deus, ler a escritura é ouvir a Deus.
A falsidade é completamente oposta
ao evangelho. Certa vez Jesus disse: “Eu sou o caminho, A VERDADE, e a vida”. Percebe? Ter nos lábios a falsidade é ser
instrumento de satanás e boca do maligno.
“Seja,
porém, o vosso falar sim, sim; não, não; pois o que passa disso vem do maligno”
(Mateus 5.37).
A falsidade é tudo aquilo que o
evangelho condena. Jesus disse: “Eu
rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique para sempre
convosco, o Espírito da VERDADE” (João 14.16-17).

A
lei de Deus, o AT e o NT, condena a falsidade ou o falar falsamente contra o
próximo porque a falsidade se opõe ao amor sincero, e a escritura nos diz que Deus é amor. Falar falsamente contra o outro é agir de forma totalmente
contrária à natureza de Deus, e assim é ser contrário ao que fomos criados para
ser, afinal se somos e somos imagem e semelhança do Deus que é amor, então,
amemos uns aos outros em verdade.
"Deus abomina a testemunha falsa
que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos” (Pv 6.19).
O
que age com falsidade trabalha em favor da desunião no corpo de Cristo. A
verdade conecta os filhos de Deus em união pela causa do evangelho, a falsidade
rompe as relações produzindo feridas nos membros de Cristo que é a igreja
“Portanto,
eu, prisioneiro no Senhor, peço vos que andeis de modo digno para com o chamado
que recebestes, com toda humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos
uns aos outros em amor, procurando cuidadosamente manter a unidade do Espírito
no vínculo da paz” (Efésios 4.1-3).
Percebe que o texto não diz: “Não
fale do outro”, mas ele diz: “não fale falsamente”. Devemos sim confrontar e
alertar os irmãos de possíveis pessoas que agem falsamente em nosso meio, isso
é um dever de todo cristão.
Exemplos
a)“Eu vos escrevo essas coisas tendo em vista
os que vos querem enganar” (1 João 2.26).
E
o contexto aqui é de João denunciando e falando daqueles que agem falsamente
entre o povo de Deus, que na carta ele traz como “anticristos”.
b) “Já vos escrevi por carta que
não vos associásseis com os imorais. Não me referia aos imorais deste mundo,
nem aos avarentos, ladrões ou idólatras. Nesse caso, seria necessário que
saísses do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que,
dizendo-se irmão, for imoral ou
ganancioso, idólatra ou caluniador,
bêbado ou ladrão. Com esse homem não
deveis nem sequer comer” (1 Coríntios 5.9-11).
c) “Escrevi
à igreja, mas Diótrefes, que gosta de ser o líder entre eles, não nos recebe.
Por isso, se eu vos visitar, trarei à memória as coisas que ele faz, proferindo
palavras insensatas e maldosas
contra nós. Como se isso não fosse o bastante, ele não recebe os irmãos, como
também proíbe de fazê-lo os que querem recebe-los e ainda os exclui da igreja” (3
João 9-10).
Não se cale diante do falso, do
mentiroso. Revele a verdade de Jesus e lembre-se das palavras de Paulo: “Acaso
procuro eu agradar a homens?”.
Percebemos
que não podemos falar falsamente contra o próximo, mas quem é o próximo? Qualquer um. Todo aquele que fala falsamente
contra o outro na verdade não está ferindo o outro apenas, antes, afronta o próprio
Cristo.
“E
caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me
persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? O Senhor respondeu: eu sou Jesus,
a quem persegues” (Atos 9.4-5).
Mas,
a quem de fato Saulo perseguia? O seu próximo!
"Então
Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e
sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos
os animais que rastejam sobre a terra” (Gênesis 1.27-28).
Note que Deus dá autoridade aos
homens para dominar sobre a natureza e os animais, mas não os autoriza a dominarem
sobre o seu semelhante. Muitas vezes o falso testemunho sobre o outro é a
expressão do desejo humano de domínio.
A esposa de potifar para ter o
domínio, profere um falso testemunho. Já que ele (José) não quis ir para cama
com ela, ela levanta um falso testemunho para dominá-lo e conseguiu.
Quando desejamos prejudicar alguém,
o que fazemos? Inventamos fatos ou distorcemos fatos que não são verdades, e
assim, de certa forma exercemos domínio contra o próximo, o falso testemunho
pode ser uma forma de domínio e isso é ferir o mandamento e um pecado contra
Cristo.
A lei de Moisés dada por Deus
protege os homens. E ela promove essa
proteção justamente pelo fato de sermos imagem e semelhança do próprio Deus.
"Na
nação da aliança cada pessoa merece desfrutar respeito por sua vida (não
matarás), por seu relacionamento conjugal (não adulterarás), por seus bens (não
furtarás), por seu nome (não dirás falso testemunho), violações desse padrão
são rejeições grosseiras da vontade de Deus que criou” (Paul R. House).
O que fazer quando estou sendo
caluniado? Como agir quando pessoas que se dizem amigas falam falsamente sobre
mim? Como agir para com aquele que me cumprimenta e trama a maldade por detrás?
Olhe para Jesus! Temos que
contemplar o feito da cruz, temos que imitar o Cristo que foi mudo ao
matadouro. Temos que trazer à memória Jesus sendo acusado e se calando diante
dos seus acusadores.
Se não olharmos para o autor e
consumador da nossa Fé, trilharemos pelo caminho da retribuição, lembra do
texto de 3 João? Diótrefes queria ser o dono da igreja, não queria receber
algumas pessoas e não apenas isso, desejava exclui-las da igreja como se fosse
dono dela.
Observe a continuação do texto: “Amado, não imites o mal, mas sim o bem.
Quem faz o bem é de Deus, mas quem faz o mal não viu a Deus”.
Imitar a Cristo é ser injustiçado,
caluniado, ouvir e saber que as pessoas estão tramando ao seu respeito, e mesmo
assim demonstrar amor. Imitar a Cristo será por vezes sofrer o dano como ensina
Paulo em prol da saúde da igreja de Cristo.
“Então
o sumo sacerdote levantou-se e perguntou-lhe: Nada respondes ao que estes
depõem contra ti? Jesus, porém, permaneceu calado” (Mateus 26.62-63).
Como usar as palavras de forma que
não contrarie as escrituras? Como não ser um caluniador ou alguém que profira
falso testemunho contra o próximo?
“Acima
de tudo que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem às
fontes da vida” (Provérbios 4.23).
O
segredo para não usar as palavras indevidamente contra o próximo, e vimos que
para Deus as palavras importam, reside em proteger o coração contra o outro.
Está em contabilizar as decepções,
saber que seremos frustrados e mesmo assim não deixar que o coração fique
amargurado, por ser tão difícil é que Jesus disse:
“Mas
o consolador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, ele vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que eu vos tenho dito” (João
14.26).
Pregue o evangelho para si
constantemente, não permita seu coração trilhar a naturalidade do rancor, magoa
e ódio. Afinal, quando muito se difama o outro, é porque a vida de oração e deleite
nas escrituras está vazia há tempos, é impossível estarmos cheios de Deus e de
intimidade com ele e ao mesmo tempo usar da boca e das palavras como
instrumento de inveja e falso testemunho.
“Da
mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim.
Será que da mesma fonte podem jorrar água doce e água amarga?” (Tiago 3.10-11).
Percebe o segredo? Oração e silêncio. Temos que confessar
que isso não é fácil, só quem já foi caluniado, só quem já sofreu nas mãos de
pessoas falsas sabem como é difícil se manter em silêncio, quando o desejo é de
retribuir e se defender.
Contudo, se quisermos viver as
escrituras, temos de olhar para Jesus. Ele antes de ser preso, orou, durante a
prisão e julgamento se silenciou, no momento da morte, clamou ao Pai.
Entretanto, ao terceiro dia, Deus o exaltou. Nunca duvide das promessas
bíblicas: “Deus abate o orgulhoso e
exalta o humilhado”. Estão falando falsamente ao seu respeito, silêncio e
oração. Você está sendo o instrumento para falar falsamente, quer seja por
inveja, ciúmes, ou o qualquer outro motivo; cuidado de Deus não se zomba,
perseguir com testemunho falso um crente é perseguir a Cristo.
Que nossas palavras sejam de
edificação, exortação, benção, graça, consolo, ânimo. Que possamos ser
instrumentos para abençoar o outro e ajudar o próximo.
Que possamos ser verdadeiros,
sinceros, íntegros. Que não caíamos nas armadilhas do nosso coração que é
enganoso, não seja um politicamente correto, seja um cristão, exorte quando
tiver que exortar, não tenha medo de perder as pessoas em prol da verdade,
lembre-se: “Jesus é a verdade”.
Que possamos amar o outro, o nosso
próximo que é a imagem de Deus. Todos somos feituras de Deus e obras das suas
mãos e não há um maior que o outro, na verdade, Paulo diz que devemos ter o
outro como superior a nós mesmos. O outro nunca pode ser visto como um
adversário, no reino de Deus todos somos membros de um só corpo. Por isso não
há motivos para testemunhos falsos.
“Não saia da vossa boca nenhuma palavra que
cause destruição, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de
que transmita graça aos que a ouvem” (Efésios 4.29).
Deus nos abençoe!
*Sermão ministrado no dia 29/04/2018 e transformado em texto.